Apesar da recomendação de especialistas e a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta segunda-feira que as mortes de crianças por covid-19 não justificam a adoção de uma vacina contra a doença. Bolsonaro também informou que não vai imunizar sua filha Laura, de 11 anos.
"Não vêm morrendo crianças que justifiquem uma vacina", declarou o presidente em entrevista às emissoras CNN Brasil e SBT, após chegar a São Francisco do Sul, Santa Catarina, onde passará a festa de ano-novo. "Minha filha não vai se vacinar, vou deixar bem claro", acrescentou. Na última quinta-feira, 23, Bolsonaro disse em live que iria discutir com a primeira-dama Michelle se iria vacinar Laura.
De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), 2.500 pessoas de zero a 19 anos já morreram por covid-19, sendo mais de 300 delas no grupo de 5 a 11 anos – justamente o que aguarda a liberação do governo para ser vacinado com as doses pediátricas da Pfizer.
Na véspera de Natal, o presidente disse a jornalistas em Brasília que não havia necessidade de uma decisão emergencial do governo sobre o tema. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, já fez a mesma afirmação.
Bolsonaro também declarou hoje que Queiroga divulgará uma nota no próximo dia 5 "sobre como acha que devem ser vacinadas crianças". "Espero que não haja interferência do Judiciário", declarou o presidente.
"A questão da vacina para crianças é uma coisa muito incipiente ainda. O mundo ainda tem muita dúvida", acrescentou, sem apresentar provas ou citar o apoio de cientistas e da Anvisa à imunização da faixa etária. Ele ainda citou um suposto estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), a "Anvisa americana", que apontaria riscos de miocardite e consequente transplante de coração em crianças vacinadas.
Em seguida, o presidente fez declarações sobre a pandemia descoladas da ciência. Afirmou que a imunidade natural é melhor que a vacinal, o que já foi desmentido por especialistas, e que todas as pandemias terminaram com "imunidade de rebanho", termo que não considera o surgimento de variantes mais infecciosas e letais.