Pressionado pela crise na área de saúde e ameaçado de impeachment, o presidente da República, Jair Bolsonaro, participou neste domingo de um ato de apoio ao seu governo, em Brasília. Da rampa do Palácio do Planalto, Bolsonaro posou para fotos com 11 de seus 22 ministros, cantou o hino nacional e adotou um discurso ameno em uma transmissão ao vivo do ato. "Nenhuma faixa, nenhuma bandeira que atente contra nossa Constituição, contra o Estado de Direito", disse o presidente, em relação aos manifestantes.
O comentário marca uma diferença em relação à postura adotada em atos anteriores, como o do dia 19 de abril, quando Bolsonaro participou de manifestação contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso, em frente ao quartel-general do Exército. Outra diferença foi a presença de ministros militares, como o general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), que é da ativa, o general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), o almirante Bento Albuquerque (Minas e Energia) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), coronel da Aeronáutica.
O <b>Estadão</b> apurou que o presidente fez chegar aos líderes do ato de apoio ao seu governo um pedido para que evitassem faixas e palavras de ordem contra o STF e o Congresso. Bolsonaro, segundo um auxiliar direto, fez o pedido pessoalmente, justificando que a insurgência contra os demais poderes não o estava ajudando. Organizadores da manifestação foram incumbidos de pedir aos apoiadores que recolhessem as faixas. Apesar disso, alguns cartazes permaneceram.
<b>Faixas</b>
Em frente ao palácio, centenas de pessoas empunhavam bandeiras do Brasil e faixas de apoio ao presidente. Mas algumas delas também traziam provocações, como "Nossa bandeira jamais será vermelha", em referência aos partidos de esquerda, e "Cloroquina já", em defesa do uso do medicamento no tratamento de infectados com a covid-19.
Havia ainda um caixão com o nome do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. Uma faixa dizia: "Soldados Especialistas da Aeronáutica apoiam Bolsonaro". O Ministério da Defesa não se manifestou a respeito.
Bolsonaro chegou à rampa acompanhado dos ministros e de um dos filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) também apareceu depois no local. Ele cobrava a participação dos ministros de origem militar no apoio mais ostensivo ao governo do pai. Para inflamar os manifestantes, Carlos ergueu os braços de vários ministros, como se os estivesse apresentando ao público pela primeira vez. "Deixa ver se você tem moral", chegou a dizer o presidente a um ministro antes de apresentá-lo.
Entre os ministros, estava a da Agricultura, Teresa Cristina, que entrou recentemente na lista de autoridades com cargos ameaçados, assim como Marcos Pontes. Em Brasília, especula-se que Pontes pode dar lugar a um representante do Centrão, que se aproximou recentemente do presidente. O Ministro da Economia, Paulo Guedes, não participou do ato.
Na rampa, Bolsonaro chegou a ficar por cerca de 4 minutos em silêncio, apenas observando os manifestantes. Eles cantaram o hino nacional e entoaram gritos de apoio. Após fazer transmissão ao vivo em suas redes sociais, Bolsonaro pegou no colo uma criança vestida com roupa do Batalhão de Choque da PM de Minas Gerais.
Com a criança, desceu a rampa e andou próximo à grade do palácio, mais perto do público. Ao contrário do visto em episódio anterior, no entanto, Bolsonaro não deu as mãos aos apoiadores, mantendo distância. Ele estava de máscara, assim como os ministros.
<b>Jornalista agredida</b>
Uma apoiadora do presidente Jair Bolsonaro bateu com o mastro de uma bandeira do Brasil na cabeça de uma jornalista da Band News TV que esperava para entrar ao vivo pela emissora durante manifestação em apoio ao governo, na capital federal. O episódio ocorreu pouco antes da participação de Bolsonaro no ato.
Depois da agressão, a repórter Clarissa Oliveira relatou que o tom dos manifestantes foi "bastante agressivo" em relação à imprensa. A responsável pela agressão, de acordo com ela, circulava com a bandeira do Brasil chamando profissionais da imprensa de "lixo". Após acertar com a bandeira na cabeça da profissional, a mulher riu da situação e pediu desculpas, ainda aos risos. Em nota, a direção de jornalismo da Band lamentou "mais essa prova de desrespeito ao trabalho da imprensa". As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>