O presidente Jair Bolsonaro encerrou nesta quinta-feira, 17, sua segunda viagem internacional de 2022. Em meio aos estragos causados pelas chuvas no Rio de Janeiro, ele volta ao Brasil com poucos acordos na mala, mas com fotos relevantes para enfrentar o ano eleitoral.
No roteiro, apenas dois dias de compromissos oficiais – um na Rússia e outro na Hungria – e acenos a bases de apoio importantes para o chefe do Executivo às vésperas das eleições, como radicais de extrema-direita e líderes do agronegócio.
A parada de um dia em Budapeste, hoje, teve direito a agenda com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, um dos principais expoentes da extrema-direita mundial e principal responsável pela guinada autoritária vivida pelo país europeu.
Após o encontro, o presidente brasileiro chamou o premiê elogiado pelo cosmo bolsonarista de "irmão", destacou a comunhão de valores entre os governos e utilizou uma frase de inspiração fascista. "Deus, pátria, família e liberdade", disse o presidente, que acrescentou "liberdade" ao lema da Ação Integralista Brasileira (ABI).
Houve assinatura apenas de memorandos de entendimento sobre gestão de recursos hídricos, ajuda humanitária a "cristãos perseguidos" e cooperação em assuntos de defesa. Assinados pelos ministros de Relações Exteriores, os textos são, na prática, cartas de intenções – isto é, não têm valor jurídico vinculante.
As trocas comerciais do Brasil com a Hungria ainda são baixas em termos comparativos. O próprio Itamaraty reconheceu, na declaração oficial sobre o encontro, que o relacionamento entre os países melhorou nos últimos três anos – ou seja, após a posse de Bolsonaro, próximo ideologicamente de Orbán.
"Reconhecendo a atmosfera de simpatia mútua entre os dois países, o compartilhamento de valores fundamentais e a convergência de visões no plano das relações internacionais, os mandatários húngaros e brasileiro reforçaram seu compromisso com a defesa da família, da liberdade religiosa, da liberdade econômica e da soberania das nações", diz a declaração conjunta sobre a agenda.
Já a viagem à Rússia reuniu na pauta temas pragmáticos, mas ainda com pano de fundo eleitoral. O grande objetivo do governo era avançar nas discussões sobre a crise dos fertilizantes, preocupação central do agronegócio. Nenhum entendimento formal a respeito do tema, contudo, foi editado. Quem lidera as negociações em torno da problemática desde o ano passado é a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, favorita do Centrão para a vice de Bolsonaro em 2022. Ela, no entanto, desfalcou a comitiva e não embarcou após testar positivo para a covid-19.
O único acordo selado na Rússia foi na área de proteção a informações. Ainda assim, Bolsonaro deixou Moscou com uma foto – e aperto de mãos, diferentemente do presidente da França, Emmanuel Macron, seu desafeto político – junto ao líder russo, Vladimir Putin, chamado pelo presidente brasileiro de conservador.
O chefe do Executivo se disse "solidário" à Rússia, neste momento em que o país vive tensões com a Ucrânia, chamou Putin de homem de paz e sugeriu parcerias na área de energia. O presidente, inclusive, insinuou uma falsa relação entre sua viagem e a retirada de parte das tropas na fronteira ucraniana.
Por outro lado, foi também em Moscou que Bolsonaro foi fotografado homenageando soldados mortos na Segunda Guerra Mundial, quando a Rússia ainda era a comunista União Soviética. A imagem de Bolsonaro, que tem ampliado as críticas à esquerda pela questão eleitoral, homenageando combatentes comunistas rodou a internet. "Soldado é simplesmente soldado", defendeu-se o presidente nas redes sociais.