Em meio à pressão crescente de governadores por engajamento efetivo do Executivo federal no combate à pandemia e na semana em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se tornou novamente elegível, o presidente Jair Bolsonaro usou boa parte de sua live para alardear o caos social, reivindicar o título de "garantidor da democracia" e pedir reconhecimento ao "sacrifício" que diz ter feito para buscar soluções na pandemia.
"Se eu levantar a minha caneta Bic e disser Shazam, eu viro ditador", disse Bolsonaro a certa altura da transmissão ao vivo desta quinta-feira (11). A frase foi um misto de queixa sobre as críticas a sua postura frente à crise da covid-19 com a tentativa de repetir a alegação, amplamente desmentida, de que o Supremo Tribunal Federal (STF) teria dado a prefeitos e governadores poderes que precederiam aos do presidente.
Nessa linha, o chefe do Planalto disse que quem decide as medidas de enfrentamento ao vírus não é ele, mas, "muitas vezes, um prefeito". Como de costume, ele equiparou restrições à circulação de pessoas definidas por gestores locais a atos ditatoriais e defendeu que toques de recolher seriam exemplos de perda de liberdade individual, recorrendo até à parábola do sapo dentro de uma bacia em que a água esquenta gradualmente. "Assim se rouba a liberdade de um povo, é devagar", falou.
Frases como "eu tenho como garantir a nossa liberdade" e "eu sou o garantidor da democracia" se revezaram com um bordão já conhecido de Bolsonaro: "Como é fácil impor uma ditadura no Brasil."
A preocupação eleitoral transpareceu em sua fala quando o presidente comparou sua própria postura no combate à pandemia com a que dois de seus adversários no pleito de 2018 supostamente teriam: "Se estivesse o (Fernando) Haddad ou o Ciro (Gomes), o Brasil estaria fechado como na Argentina", alegou.
Ao mesmo tempo em que destilava ataques a outros entes da federação, por sustentar que estava antevendo problemas sociais "sérios" devido ao que insistiu em chamar de "um ano de lockdown no Brasil", Bolsonaro pediu "união nos momentos difíceis: "Eu tenho que ter apoio", apelou. "Eu sou a pessoa mais importante neste momento. Devo lealdade ao povo", disse em outro trecho da fala.
O mandatário sustentou que não quer ser chamado de "mito" nem de "Messias", e sim ser respeitado. Apesar dos lampejos de humildade, logo vieram as declarações do presidente de que faz o que o povo quiser porque é o chefe supremo das Forças Armadas e não vai mudar sua "maneira de ser" ou fugir de seu "papel".
"A quem interessa o caos no Brasil?", indagou Bolsonaro.