O diretório do Partido Liberal no Rio de Janeiro pretende manter a candidatura do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) à prefeitura da capital fluminense. O avanço das investigações que apuram um suposto esquema de espionagem ilegal na Agência Brasileira de Inteligência não deve, a princípio, impactar a decisão do clã Bolsonaro em apoiar o ex-chefe da Abin no Estado reduto bolsonarista.
O ex-presidente teria se irritado com Ramagem após a informação de que a Polícia Federal encontrou um áudio de uma reunião em que ele, o general Augusto Heleno (então chefe do Gabinete de Segurança Institucional, ao qual a Abin é subordinada) e Ramagem discutem um plano para anular o inquérito das rachadinhas – investigação que fechou o cerco ao senador Flávio Bolsonaro, filho 01 do ex-chefe do Executivo.
De acordo com aliados do ex-chefe do Executivo e de integrantes do partido, a candidatura de Ramagem é "irreversível". Nas redes sociais, o deputado diz que as suspeitas levantadas pela PF são "ilações e rasas conjecturas".
"No Brasil, nunca será fácil uma pré-campanha da nossa oposição. Continuamos no objetivo de legitimamente mudar para melhor a cidade do Rio de Janeiro", escreveu.
Apesar do desconforto com Ramagem, o ex-presidente e o PL preparam uma série de agendas na próxima semana para impulsionar a campanha bolsonarista no Rio de Janeiro. Bolsonaro tem compromissos marcados para a capital fluminense, Baixada Fluminense e Angra dos Reis.
A gravação remonta a um encontro realizado em agosto de 2020, também com a participação da advogada de Flávio. A conversa citou os auditores da Receita responsáveis pelo relatório de inteligência fiscal que baseou a investigação do caso Queiroz – revelado pelo <b>Estadão</b>. Procurado, Flávio disse que nunca teve contato com integrantes da Abin. "Simplesmente não existia nenhuma relação minha com Abin. Minha defesa atacava questões processuais, portanto, nenhuma utilidade que a Abin pudesse ter. A divulgação desse tipo de documento, às vésperas das eleições, apenas tem o objetivo de prejudicar a candidatura de Alexandre Ramagem à prefeitura do Rio de Janeiro", disse o senador. Bolsonaro, por meio de Fabio Wajngarten, disse não ter acessado a gravação, que não foi divulgada até o momento.
Aliado fiel do clã Bolsonaro em solo fluminense, o berço político do bolsonarismo, Ramagem ainda não decolou como pré-candidato. A três meses das eleições municipais, o atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), aparece com 53% das intenções de voto em levantamento do Datafolha divulgado em 5 de julho. Ramagem vem em seguida, mas com 9% – uma diferença de 44 pontos porcentuais.
Interlocutores do deputado atribuem o baixo desempenho à sua inexperiência em disputas ao Executivo e trabalham em uma estratégia para preparar o candidato bolsonarista para as eleições. Ramagem é uma aposta pessoal de Bolsonaro para manter a influência em seu reduto eleitoral. O presidente lançou a pré-candidatura do deputado em março, na quadra da Mocidade Independente de Padre Miguel, na zona oeste do Rio de Janeiro. O evento, no entanto, não recebeu o público esperado e ficou abaixo da expectativa da pré-campanha.
Em janeiro, o deputado foi alvo de mandado de busca e apreensão autorizado na Operação Vigilância Aproximada, um desdobramento da Operação Última Milha, de outubro passado. Ramagem esteve à frente do Abin entre julho de 2019 e abril de 2022, durante o período em que dois servidores, presos em outubro, teriam utilizado a estrutura estatal para localizar os alvos da espionagem. Ramagem só saiu do cargo para concorrer às eleições a deputado, e foi confirmado como pré-candidato do PL no Rio por Bolsonaro em novembro.
Conforme as investigações na época, a agência utilizou um sistema de espionagem israelense para monitorar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e adversários do governo do então presidente Jair Bolsonaro.