Estadão

Bolsonaro é um show de horror; Lula propõe soluções antigas

O empresário Pedro Passos está preocupado com as eleições. Um dos fundadores da Natura, Passos vê problemas sérios nas duas candidaturas favoritas. "A síntese do governo do presidente Jair Bolsonaro é um show de horror", disse, "(se vencer) ele vai levar a gente para uma situação muito grave por conta da situação institucional e da falta de compromisso com determinadas agendas econômicas, como a ambiental, que isola o Brasil."

Em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o temor é de um projeto que considera ultrapassado e ineficaz com soluções antigas para problemas novos. "Quando analiso a proposta do PT, vejo que está mais parecida com o governo Dilma do que o Lula 1 (1º mandato de Lula). Esse 1 faz toda diferença."

Com outros empresários, ele ajuda a preparar propostas para o plano de governo de Simone Tebet. "Estou confiante de que, com a Simone, a discussão vai subir a barra." Passos acredita que quem ganhar a eleição tomará posse, apesar de todo o ruído político. "A gente sabe que, pelo histórico dele, Bolsonaro não quer a democracia", disse. "Mas, apesar de tudo, o Brasil tem ainda resistência a esse tipo de coisa." A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao <b>Estadão</b>:

<b>Faltando três meses, o que esperar das eleições?</b>

Sou um ativista pela terceira via. Independentemente de projeções eleitorais que eu não sei fazer, a melhor forma de colocar o Brasil no rumo é ter uma alternativa ao que está aparecendo nas pesquisas, Bolsonaro e Lula. Uma chapa Simone-Tasso dá consistência para as prioridades dessa terceira via. Fala muito mais de futuro do que as alternativas hoje.

<b>O que o levou a fazer essa escolha pública?</b>

Podemos adjetivar o que o governo Bolsonaro tenta fazer: destruir as instituições, a democracia, os regulamentos mínimos da lei eleitoral, uma atitude tosca do que o Brasil precisa. Então, não precisa falar de programa de governo Bolsonaro porque a gente vive o programa Bolsonaro. A síntese é um show de horror. Ele sempre defendeu a ditadura, torturadores etc. Não tem surpresa em relação à biografia dele. Há surpresa em relação a certas coisas que ele disse na campanha e não fez. Seria um horror submeter o Brasil a mais quatro anos de bolsonarismo. Por outro lado, tenho acompanhado, e participei de um jantar com Lula. Tentando extrair das próprias diretrizes do programa do PT, fico com uma sensação de que a gente está voltando ao passado, com soluções antigas para problemas novos.

<b>Quais soluções?</b>

Temos um cenário internacional mais complexo. Um País também mais complexo em termos de inflação, pobreza etc. Sabemos que o Brasil precisa de reformas. Por isso, acho que a Simone (Tebet) pode enriquecer o debate, que está muito ralo com soluções antiquadas de um lado e trágicas de outro.

<b>Por que o debate em torno de ideias não acontece?</b>

Estou confiante de que, com a Simone, a discussão vai subir a barra. Hoje, não tem discussão. Teve um encontro da CNI, e o Lula não foi. Ele está com uma postura mais eleitoral e menos de explicitar qual é o programa. Alguns falam: "Não vai ser isso, na hora H vai mudar". Eu falo: já não deu certo em 2018.

<b>Poderia dar exemplos de soluções antiquadas?</b>

Tirar o teto de gastos, mas não define qual é o novo regime. Reforma tributária e administrativa superficiais. A agenda de aumento da produtividade não é prioritária. Crítica a preços de combustíveis, "abrasileirar os preços". Gostaria que me explicassem o que é isso. Não seguir a cotação do dólar? Isso é bobagem. Alguém vai pagar a conta daqui a um, dois, três anos. A política cambial não pode ser passiva . Intervenção de câmbio, a gente sabe que não dá certo. Resistência às concessões de saneamento, Estado indutor do crescimento através de estatais, a Petrobras reintegrando a cadeia de distribuição e refino.

<b>Você tem uma lista…</b>

Já vimos onde isso vai dar. Tem a proposta do ativismo dos bancos públicos, sabemos que isso desequilibra o mercado de capitais de longo prazo. As políticas industriais. Tenho uma relação de políticas industriais. Teve o programa PSI, aquele em que o juro estava tão barato que tinha gente comprando caminhão para estocagem de mercadoria, e não para trafegar. Foram R$ 316 bilhões em subsídios creditícios. Há ainda os planos Brasil Maior, Inovar-Auto. Tem sentido subsidiar combustível fóssil para quem não está abaixo da linha de pobreza? Quando analiso a proposta do PT, está mais parecida com o Governo Dilma do que com o Lula 1 (2003/2006). Esse 1 faz toda a diferença.

<b>A senadora está bem atrás nas pesquisas. As chances de a candidatura dela deslanchar são mais difíceis?</b>

Ela vai se tornar mais conhecida a partir da convenção. Torço para que se confirme o nome do Tasso, que vai dar consistência econômica e socioambiental ao programa. O Brasil precisa de uma discussão madura a respeito de futuro, de prioridades, integrando políticas públicas com parceria privada. Pela situação de guerra e pandemia, tem uma baita oportunidade para o Brasil que é a atração do capital que está circulando no mundo. Tem um caminho para fazermos uma agenda econômica verde, e o Brasil tem uma grande vantagem porque vamos gerar crédito de carbono mais barato.

<b>Qual o seu envolvimento na campanha de Simone?</b>

Um grupo de empresários trabalha há dois anos para buscar alternativa à polarização. Para nós, é importante o País ser pacificado. Agora afunilou o nome da Simone, e procuramos ajudar com formulações e ideias.

<b>Qual o cenário que você vê com Bolsonaro ou Lula?</b>

O Bolsonaro vai levar a gente para uma situação muito grave por conta dessa coisa institucional, a falta de compromisso com certas agendas econômicas, como a ambiental, que isola o Brasil. Além de ser uma tragédia para a saúde. Na educação, o que está acontecendo com quatro ministros em três anos de governo. O armamento da população… É um atraso civilizatório. O Lula é o diagnóstico de que as formulações não vão dar certo. Se não trabalhar a agenda de produtividade, não vamos colocar o Brasil em condições de igualdade com os outros países.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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