Às vésperas da disputa que vai escolher os novos presidentes da Câmara e do Senado, o presidente Jair Bolsonaro condicionou a recriação de ministérios a votos em candidatos apoiados pelo governo. Em cerimônia realizada no Palácio do Planalto nesta sexta-feira, 29, Bolsonaro admitiu que poderá recriar os ministérios do Esporte, da Cultura e da Pesca, após a eleição que vai renovar a cúpula do Congresso, na próxima segunda-feira.
As três pastas foram extintas pelo presidente e viraram secretarias. Nesse terceiro ano de mandato, Bolsonaro pretende fazer uma reforma na equipe, mas, tendo o Centrão como aliado, negocia apoio aos seus candidatos – Arthur Lira (Progressistas-AL) para a presidência da Câmara e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para o comando do Senado -, em troca de um atrativo pacote de ofertas.
O <b>Estadão</b> revelou nesta quinta-feira, 27, que o governo liberou R$ 3 bilhões em recursos "extras", do Ministério do Desenvolvimento Regional, para 250 deputados e 35 senadores destinarem a obras em seus redutos. A iniciativa seguiu o roteiro da disputa: dos contemplados, grande parte declarou apoio aos candidatos do governo no Congresso. Além disso, parlamentares que têm indicação dos partidos para votar em adversários do Planalto, como Baleia Rossi (MDB-SP), estão sendo atraídos com verbas e cargos.
"Se tiver o clima no Parlamento, (porque) ao que tudo indica as duas pessoas que nós temos simpatia devem se eleger (Lira e Pacheco), não vamos ter mais uma pauta travada", disse o presidente na solenidade em que recebeu os novos atletas embaixadores dos Jogos Escolares Brasileiros, na qual poucos usavam máscara de proteção. "A gente pode levar muita coisa avante e quem sabe até (fazer) ressurgir ministérios."
A redução de ministérios era uma agenda de campanha do próprio Bolsonaro, em 2018. Por meio de medida provisória, ele diminuiu o número de pastas de 29 para 22. "Alguns podem falar Ah, quer recriar ministério?. O tamanho do Brasil, pessoal, só a Amazônia é maior que toda a Europa ocidental todinha", justificou.
No início do governo, Bolsonaro também dizia que não lotearia o governo e que governaria com frentes parlamentares. Nada disso ocorreu. No ano passado, o presidente se aliou ao Centrão, bloco que reúne aproximadamente 200 dos 513 deputados na Câmara. Lira é o principal líder desse grupo.
Ao discursar no Planalto, Bolsonaro deu sinais de que se arrependeu da decisão de não criar mais ministérios e disse que, se formasse sua equipe hoje, teria dado status de ministro aos secretários especiais Mario Frias, de Cultura, Jorge Seif, da Pesca, e Marcelo Magalhães, do Esporte.
<b>Xadrez</b>
O resultado da eleição no Congresso, porém, é que vai definir a extensão da reforma ministerial. O Progressistas, partido de Lira, quer o Ministério da Saúde, hoje comandado pelo general Eduardo Pazuello – desgastado por erros cometidos na condução da pandemia de covid-19 -, e o Republicanos, ligado à Igreja Universal, está de olho em Cidadania, hoje nas mãos de Onyx Lorenzoni.
Cidadania é a pasta que cuida do Bolsa Família, programa que Bolsonaro quer turbinar para servir de vitrine para sua candidatura à reeleição, em 2022. "Pouca gente resiste ou resistiu dois meses de ataques como nós temos resistido há dois anos. E isso eu tenho um sentimento, só um, que é entregar o Brasil em 2023 ou 2027, não sei, melhor do que eu recebi", disse o presidente.
Na configuração desenhada por Bolsonaro para o pós-eleição, a ideia é que Onyx seja transferido para a Secretaria-Geral da Presidência, atualmente com um interino. Com isso seria aberta uma vaga para o Centrão na pasta da Cidadania, que tanto pode ir para o Republicanos como para outro partido do grupo. O Ministério de Indústria e Comércio também poderá ser recriado. Articulador político do Planalto com o Congresso, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, permanecerá no cargo.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), discutiu com Ramos por telefone, recentemente, pedindo explicações do governo sobre a interferência na disputa do Legislativo. Maia apoia Baleia Rossi. "Eu repudio essas afirmações. A Secretaria de Governo não está fazendo nada disso", disse Ramos.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>