O Ibovespa registrou nesta terça-feira, 7, a quarta alta consecutiva, surfando ainda a onda do ânimo externo ao mesmo tempo em que, no cenário doméstico, os riscos que veem de Brasília parecem minimizados em comparação ao peso que tiveram sobre os ativos nos últimos meses. Apesar de ter flertado com os 108 mil pontos durante boa parte do pregão, o indicador arrefeceu levemente o impulso após alguns ruídos em Brasília sobre a queda de braço entre Câmara e Senado em torno da votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios e terminou o dia em 107.557,67 pontos, alta de 0,65%.
Nos quatro dias consecutivos de alta, o Ibovespa acumula um avanço de 6,73%. A bolsa brasileira segue o ânimo externo ancorado, sobretudo, em novas declarações que geram alívio em relação à gravidade da variante ômicron, e a indicadores positivos na China e na Europa.
O setor de metais tem destaque hoje, com Vale subindo quase 1% com o minério em alta acentuada (8,28% em Qingdao), após a divulgação da balança comercial na China e com os investidores ainda digerindo, de forma positiva, a mudança na taxa do compulsório chinês. O índice de materiais básicos, com isso, subiu 1,03% nesta terça-feira e já acumula uma alta no mês de 9,81%.
"Alívio nas preocupações com a economia global impulsiona mercados nesta terça-feira. Investidores reavaliam o tamanho dos possíveis impactos da variante ômicron sobre a reabertura da economia global. Reforçam a menor aversão ao risco a divulgação dos dados da balança comercial chinesa e do índice ZEW de expectativas econômicas da Alemanha, que caiu de 31,7 pontos em novembro para 29,9 em dezembro, acima do esperado (25,0 pontos)", resume o Bradesco em boletim.
Mais um dia de avanço sustentado no petróleo também ajudava as petroleiras, com o barril do Brent fechando em alta de 3,23% e o WTI, 3,68%. Embaladas, as ações da Petrobras subiram 2,77% (ON) e 1,63% (PN).
Por outro lado, os bancos puxavam o índice para baixo, com os investidores preferindo outros papéis. Bradesco, Santander, Itaú Unibanco e Banco do Brasil recuaram, todos, mais de 1%. O líder da mesa de renda variável da Blue3, Antonio Carlos Pedrolin, explica que, com os juros longos arrefecendo, houve uma rotação de carteira por parte dos investidores, que saíram de bancos para setores ligados a commodities e, em alguma medida, também para varejo, cujas ações sofreram nos últimos meses com o aumento no juro. Tanto que as ações da Magazine Luiza tiveram alta de 4,38%, após dias de queda acentuada.
"As empresas do setor bancário estão caindo um pouco mais com o arrefecimento da curva mais longa de juros. Eles são beneficiados com o aumento de juros porque podem repassar no crédito. Mas não estão caindo muito. Existe um movimento de rotação", disse Pedrolin, completando: "A gente percebe um movimento de rotação externo e interno. Externo com investidores saindo de economias desenvolvidas para emergentes. E local, com fundos saindo de bancos e indo pra commodities, metais".
Apesar de não ter sido suficiente para tirar o vetor de alta, os ruídos em Brasília em torno da PEC dos Precatórios chegaram a arrefecer o fôlego do Ibovespa no meio da tarde. A promulgação é alvo de um imbróglio entre Câmara e Senado. Os senadores promoveram alterações para "amarrar" o espaço fiscal da PEC ao novo programa social e despesas da Previdência e rejeitam a tentativa de fatiamento. A cúpula da Câmara, no entanto, cobra o fatiamento da proposta e quer deixar as mudanças para 2022.
Com isso, as conversas entre os dois lados vão e voltam desde ontem, sem decisões, à beira do recesso de fim de ano do Congresso. Hoje, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), citou o dia 22 de dezembro como o prazo limite para uma decisão sobre o assunto.
Apesar de o imbróglio estar no radar do mercado, a percepção é de que os maiores riscos já foram resolvidos em relação ao assunto, na votação da PEC no Senado. "O principal medo foi se dissipando. Primeiro exageraram no medo e depois viram que não era pra tanto. Está fazendo menos preço", aponta o analista de investimento da Toro João Vítor de Freitas.