Na semana em que a TV brasileira completa 70 anos, o ex-diretor da Rede Globo, José Bonifácio de Oliveira, o Boni, 84, participou como convidado do programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira, 14.
Durante a entrevista, ele foi questionado sobre o assédio na televisão e afirmou que nunca recebeu esse tipo de denúncia enquanto trabalhou na emissora e ponderou que a falta de queixas podem ter diversos motivos, como medo ou até naturalização desse comportamento na época.
Ele também afirmou que "certamente demitiria" o ator José Mayer, acusado de assédio sexual, e o humorista Marcius Melhem, acusado de assédio moral, se as queixas fossem comprovadas.
"Aqui, de longe, eu não mandaria embora porque são pessoas extraordinárias. Agora, trabalhando lá dentro, teria detalhes, fatos, que pudessem comprovar isso", disse.
Em resposta a jornalista Vera Magalhães, que mencionou o movimento MeToo, campanha que teve início em Hollywood e escancarou os abusos sexuais nas produções, Boni afirmou que é preciso ter cuidado.
"Temos que pensar que há muito folclore. No meu tempo, eu não acredito que houvesse outro critério que não fosse talento ou capacidade. Se, eventualmente, fizessem alguma coisa, a gente mandava embora (…) Na minha sala nunca chegou um caso de reclamação de assédio", disse ele.
Além disso, o ex-diretor falou sobre a importância das novelas. "Eu acho que a novela será o gênero que permitirá a sobrevivência da televisão brasileira. O fato dela criar personagens que você ama ou odeia e passa seis meses ligado com ele, em um total processo de fidelidade, é o que vai manter um pouco da dramaturgia viva na televisão".
Boni começou a trabalhar na Globo em 1967 e foi quem criou a grade da programação do horário nobre, constituída por três novelas -sendo que, entre a segunda e a terceira, é transmitido o Jornal Nacional.