Quando ouviram a trilha sonora do musical americano <i>Bonnie and Clyde</i> em 2011, os atores e produtores Eline Porto e Beto Sargentelli descobriram o espetáculo que desejavam montar no Brasil. "Fiquei apaixonado pelas músicas", comenta Sargentelli. "E a peça ainda traz um fascinante casal de protagonistas que, na vida real, viveu uma história de amor, aventura e crime que capturou a atenção de um país inteiro." Outros projetos e a interrupção forçada pela pandemia adiaram o plano, que finalmente tomou corpo: <i>Bonnie & Clyde</i> estreia nesta sexta-feira, 10, no 033 Rooftop do Teatro Santander, em São Paulo.
Valeu a pena esperar. "Estávamos em busca de personagens mais desafiadores, que nos testassem como atores", explica Eline, que tem em Sargentelli um parceiro na arte e na vida. De fato, a trajetória real de Bonnie Parker (1910-1934), garçonete com ambição de ser poeta, e de Clyde Barrow (1909-1934), filho de fazendeiros pobres que ainda jovem se envolveu com a polícia, rendeu diversas lendas urbanas, motivadas pelo desejo mútuo por emoção e fama que os colocou no caminho do crime.
O momento – final dos anos 1920 – contribuiu. "A recessão econômica provocada pela quebra da bolsa de valores de 1929 convenceu esse casal, formado por duas pessoas inicialmente deslumbradas, a formar uma gangue para roubos a pequenas lojas, bancos ou postos de gasolina rurais, na região central dos Estados Unidos", comenta João Fonseca, diretor do espetáculo. "Eles eram especialmente contra os bancos porque, durante o período da depressão, eram os locais onde ficava guardado o dinheiro que faltava para a grande maioria das pessoas."
<b>INIMIGOS</b>
Suas façanhas logo atraíram a atenção do público durante a chamada Era dos Inimigos Públicos, iniciada em 1931. Fonseca observa que, de deslumbrados, Bonnie e Clyde logo tomam consciência da crítica situação do país.
O comportamento do casal de amantes torna-se cada vez mais ousado e imprudente e a emocionante aventura logo se transforma em uma espiral descendente, colocando os jovens e seus comparsas em apuros com a lei. Forçados a fugir, Bonnie e Clyde recorreram ao roubo e ao assassinato para sobreviver. À medida que a fama da dupla crescia, seu inevitável fim se aproximava.
"Essa movimentação pelas cidades inspirou a concepção do espetáculo", conta o diretor. Contribuiu o fato de a peça ser montada no 033 Rooftop, local totalmente livre de palco e cadeiras fixas, oferecendo total liberdade para a cenografia de Cesar Costa. Assim, caminhos sinuosos foram traçados no espaço, que conduzem os personagens de um lugar para o outro, desde a casa na qual o jovem Clyde se revolta contra a pobreza da família até a lanchonete em que trabalha a sonhadora Bonnie, local também do primeiro encontro deles. "Clyde é um autêntico delinquente, mas é justamente esse desvio de caráter que seduz Bonnie", comenta Sargentelli, que começou a viabilizar a produção em 2018, com a negociação dos direitos autorais.
<b>FORD</b>
Depois do vácuo criado pela pandemia, o projeto ganhou força com a chegada de Adriana Del Claro, tanto na produção como no elenco – ela vive Blanche, casada com Buck (Claudio Lins), irmão de Clyde. "Buscamos uma completa imersão do público na trama", conta Adriana. Para isso, os produtores apostaram em detalhes – como o uso de um carro original Ford V8, igual aos utilizados pelos personagens. A restauração de uma carcaça comprada em Curitiba a deixou idêntica ao modelo original.
"Clyde era apaixonado por carros", comenta o diretor musical Thiago Gimenes que, além de uma trilha não tradicional (combinando blues, gospel e rockabilly), orientou a propagação do som por todos os cantos. "E, como o musical não tem coreografia, criamos uma partitura de movimentos a fim de incentivar a ação", diz a coreógrafa Keila Bueno.
Bonnie & Clyde
033 Rooftop do Teatro
Santander (cobertura)
Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2.041. 6ª, 20h. Sáb. e dom., 15h30 e 20h. R$ 75 / R$ 250. Até 14/5.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>