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Boom de blocos cria maratonista da folia

Que os blocos de carnaval pegaram na cidade nem precisamos dizer. Basta (tentar) circular pela Vila Madalena em um fim de semana para conferir com olhos, ouvidos e, se gostar, algum traquejo no pé e cerveja na mão. A consolidação da folia de rua em São Paulo faz surgir agora uma primeira geração de uma figura antes comum apenas em cidades como Rio e Salvador: os maratonistas do ziriguidum.

Em 11 dos 12 meses do ano, eles são seres humanos como você e eu. Trabalham, passeiam, estudam, amam, viajam. Mas aí chega o fim de fevereiro e parece que o mundo para em uma nota só, em um ritmo único e mágico, em uma fantasia linda: a temporada dos blocos. A gestora de políticas públicas Nayara de Souza Araujo, de 28 anos, aproveita que já está acostumada a usar o Excel no trabalho e, como quem abre o pacote de confete, zupt, inaugura uma planilha nova, com nome em letras maiúsculas: CARNAVAL MERECIDO.

“Pesquiso todos os blocos que mais gosto pelo Facebook, vejo as datas e faço uma lista dos que eu quero ir, com o cuidado de avaliar os horários e as distâncias entre um e outro”, conta ela, para emendar com o segredo do sucesso: compartilhar o arquivo com os amigos. “Preciso divulgar para eles para que consiga influenciá-los a ir comigo justamente aos meus favoritos”, diz.

Em sua agenda carnavalesca o carnaval deste ano tem 14 dias. Começou em 4 em 5 de fevereiro, depois vieram 11 e 12, 17, 18 e 19 – pela frente ainda há do 24 ao 28 e, ufa!, os dias 4 e 5. Bloco de Pedra, Ilú Obá De Min, Bastardo, Jegue Elétrico, Tarado Ni Você e Domingo Ela Não Vai estão entre seus favoritos. “Na média, vou a três por dia”, comenta, com aquela convicção de que depois de atingir a meta, não há problema nenhum em dobrar a própria meta.

“Antes, eu viajava para Ouro Preto, para São Luiz do Paraitinga, para algum lugar em busca do carnaval de rua. Agora não preciso: economizo uma grana, fico aqui em São Paulo, me divirto e ainda durmo na minha própria casa”, compara.

Outro folião profissional é o publicitário e empreendedor Aron Freller, de 28 anos. “Faço uma lista com os amigos”, resume. “Carnaval bom tem de ter no mínimo três blocos por dia”, afirma.

O produtor de moda Celso Floriano de Oliveira Júnior, de 30 anos, é da mesma opinião. “Se fizer uma programação que considere as distâncias entre um bloco e outro e se programar para ficar 1h30 em cada um, dá para ir a vários em um mesmo dia”, explica.

Cuidados. Para o médico fisiologista Turibio Leite de Barros, ex-professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o folião inveterado precisa preparar-se como um atleta. “Para a maratona do carnaval, as recomendações são semelhantes às de um participante de competição esportiva. Ou seja: reidratação a cada 30, 40 minutos – com pelo menos 200 ml de água ou isotônico”, diz. “No caso, isotônico é até melhor, pois também repõe os sais minerais perdidos pelo suor e ainda um pouco da energia.”

Barros também alerta para a alimentação. “Duas ou três horas antes do início da atividade, é preciso uma boa refeição, de preferência com alimentos ricos em carboidratos, como massas, frutas e cereais. E evitar alimentos gordurosos”, sugere.

A roupa também é fundamental. “O indivíduo não pode ceder à tentação de vestir uma fantasia que prejudique a perda de calor. É preciso usar uma roupa termicamente confortável”, alerta. O médico também lembra que para aguentar a sequência de dias e dias de folia é preciso respeitar boas noites de sono. “E não desprezar nenhum sinal de desconforto: se houver dor de cabeça, tontura ou principalmente dor no peito, é melhor investigar. Acima de tudo, a saúde”, adverte.

Os maratonistas do ziriguidum ouvidos pela reportagem parecem precavidos. “O meu segredo para aguentar é simples: protetor solar, tênis confortável e intercalar sempre duas latinhas de cerveja com uma garrafa dágua”, diz Nayara. “O preparo físico já vem durante o ano todo. Tem de estar acostumado a ficar muitas horas em pé, gostar de ir em festa. E, no carnaval, tomar muita água. Se você não se cuida e abusa já no sábado, no domingo acaba aguentando só dois blocos, na segunda vai acabar apenas em um e na terça nem vai querer sair de casa”, afirma Freller.

“Procuro descansar bastante já no dia anterior, dormir bem, não sair em balada. No bloco, o importante é não descuidar da água e caprichar no protetor. E não dá para encher a cara. Adoro cerveja, mas, se você abusar, não chega nem ao terceiro bloco”, aconselha Oliveira Júnior. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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