O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, disse ontem que, diante da alta dos juros e da inflação no ano passado, os calotes subiram rapidamente. "Chegamos na pandemia a taxa de juros que não condizia com o País", disse. "Em função disso, talvez tenhamos concedido mais crédito do que deveríamos."
No ano passado, o Bradesco teve lucro de R$ 20,7 bilhões, uma queda de 21,1% em relação a 2021, explicada principalmente pelos provisionamentos contra a inadimplência – incluindo as possíveis perdas com a Americanas.
"Provisionamos integralmente a exposição de um cliente de atacado.
Provisionamos no quarto trimestre de 2022 por governança, embora o evento tenha sido posterior", afirmou Lazari, em entrevista para comentar os resultados do banco. Por sigilo bancário, os bancos não têm citado nominalmente a varejista.
De acordo com o executivo, o banco revisitou o apetite de risco, o que deve reduzir as provisões contra a inadimplência no segundo semestre deste ano. "O principal aumento em 2023 virá do aumento das provisões", comentou ele. O presidente do Bradesco afirmou ainda que no atacado, não deve haver um crescimento forte nas provisões, mas sim menores reversões de provisão em lucro: "Deveríamos ter restringido o apetite antes. De todo modo é um aprendizado."
Segundo ele, o banco já reduziu de forma relevante a tomada de riscos no segmento de pequenas e médias empresas, um dos que tiveram uma aceleração da inadimplência ao longo do ano passado. O mesmo tem acontecido em cartões de crédito, afirmou.
"Em PMEs, já reduzimos sensivelmente o apetite a risco", afirmou. "O crescimento anual em cartões é forte, mas já mostra uma desaceleração." De acordo com ele, se trata de um "ajuste de rota", com o Bradesco direcionando esforços tanto para segmentos de clientes quanto para produtos de menor risco.
Lazari disse que o banco está com provisões suficientes para cobrir os casos de empresas de grande porte que têm mostrado dificuldades para pagar as dívidas. Sem citar nomes, ele disse que o banco não vê o cenário com preocupação.
"Estamos com provisões adequadas para as empresas que estão no noticiário", disse. No quarto trimestre, o Bradesco provisionou 100% de sua exposição à Americanas, de R$ 4,9 bilhões, o que derrubou seu resultado em mais de 75% no comparativo anual. "Temos um balanço bem provisionado, são quase R$ 58 bilhões em provisões."
<b>AMERICANAS</b>
Sem citar a Americanas nominalmente, Lazari disse que o caso foi uma fraude, e que é pontual. De acordo com ele, o banco não mudou as condições de contratação do chamado risco sacado, operação que está no centro do rombo contábil que levou a empresa à recuperação judicial.
"É um caso pontual, uma fraude", afirmou. "O risco sacado não traz inadimplência. Quando o caso aconteceu, fomos revisar todas as operações."
Segundo ele, o banco não encontrou situações de fragilidade nesse processo. "Não mudamos o spread do risco sacado pelo caso específico", disse.
O executivo pontuou ainda que o caso foi inesperado, dado o histórico da companhia e de seus três sócios de referência, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. "Fomos surpreendidos, não só nós, como o mercado."
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>