Tempos atrás, discutiu-se muito a falta de sensibilidade e planejamento ao longo das duas gestões do governo Lula, em relação à produção de combustíveis alternativos, principalmente o etanol. Em um dos períodos de maior expansão da indústria automobilística no Brasil, com recordes seguidos de produção, com um grande avanço na oferta de automóveis com motores bicombustíveis, nada foi feito no sentido de garantir o fornecimento de álcool ao consumidor final.
Ano após ano, os produtores de cana-de-açúcar foram transferindo suas safras para a indústria de açúcar, que oferecia valores bem melhores, deixando a produção de etanol para segundo plano. Com o aumento na procura pelo combustível alternativo, a princípio apenas nos períodos de entressafra, a partir de 2009, começou a faltar o produto na bomba. Pela lei da oferta e procura, o dono de carros flex passaram a preferir gasolina que, apesar de mais cara por litro, era melhor justamente devido ao consumo menor.
O que era para ser exceção – períodos em que não compensava a utilização do etanol – passou a ser regra. Neste momento, por exemplo, em que o Brasil não vive entressafra, donos de carros flexíveis continuam preferindo a gasolina. Só que com um problema a mais: o valor do combustível derivado de petróleo está contaminado pelo álcool, já que ainda carrega 25% em sua composição. Ou seja: os dois acabam caros.
Para comprovar que a situação para o etanol segue insustentável, donos de postos de combustível já estão retirando bombas e tanques destinados ao derivado de cana e oferecendo mais gasolina ao consumidor. Também já se percebe na indústria automobilística um movimento para diminuir os investimentos nos bicombustíveis, já que a palavra de ordem – finalmente – são veículos elétricos (que ainda podem demorar para entrar em produção, mas figuram como uma tendência irreversível).
Ou seja, o próprio mercado encontrou uma forma de regular a oferta do combustível. Mas um tema muito importante ficou para trás nesse erro de planejamento: os danos à natureza causados pelo derivado de petróleo. Aliás, o Brasil – que chegou a ganhar destaque junto a mecanismos internacionais de proteção à natureza – deu um passo atrás depois de ser apontado como o grande país do combustível verde.