Por não chegar ao menos à nota média dos estudantes de países desenvolvidos em avaliações internacionais, o Brasil deixa de ganhar 2 pontos porcentuais no Produto Interno Bruto (PIB) ao ano. A conclusão está em um estudo de pesquisadores da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), que faz uma síntese das evidências sobre o impacto da educação no crescimento de uma nação. O Brasil é um dos últimos colocados em rankings de avaliações e seu PIB médio, na última década, foi de 0,26%.
O trabalho também deixa claro que o aumento da riqueza de um país se dá pelo incremento na qualidade da educação e não apenas pela taxa de escolaridade, como se acreditava no passado. As dezenas de estudos analisados levaram em conta resultados dos países em avaliações como o Pisa, feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS).
Um dos estudos, de Eric Hanushek, da Universidade de Stanford, de 2022, indica que se os países da América Latina garantissem que todos os estudantes alcançassem o nível básico de proficiência no Pisa, os ganhos para a região ao longo do século 21 somariam US$ 76 trilhões. "A educação é condição necessária para o crescimento sustentável, para um ciclo virtuoso. Não é só que o país produz mais, há melhora da vida das pessoas, em saúde, com menos criminalidade, salários mais altos, inovação, participação política", diz o professor da FGV e diretor do Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados para a África Lusófona e o Brasil (Clear), André Portela, responsável pelo estudo.
Estudos considerados pela FGV mostram também como uma escola de mais qualidade influencia positivamente outros aspectos sociais, reduzindo taxas de homicídios e violência doméstica, por exemplo. Há ainda uma pesquisa brasileira que indica que o aumento no Ideb, o índice de desenvolvimento da educação no País, está associado a maiores taxas de geração de emprego nos municípios.
"O verdadeiro motor da economia não é a taxa de juros, é o capital humano. Ele perdura e tem impactos reais a longo prazo", afirma o diretor de conhecimento, dados e pesquisa da Fundação Lemann, Daniel De Bonis. O estudo foi feito a pedido da entidade. "A gente vê sempre o debate econômico ganhando destaque, quando deveríamos estar discutindo o investimento em educação. Cada ano que a gente perde não garantindo uma aprendizagem adequada para as crianças é uma riqueza futura que a gente está perdendo."
Pesquisas mostram que a melhora na educação impacta ainda mais os países em desenvolvimento. Em países de renda média baixa, o PIB poderia ser elevado em até 28%; entre os de renda média alta, como o Brasil, em até 16%, e nos de renda alta, 10%. Entre os exemplos de nações que tiveram melhora na educação e crescimento econômico nas últimas décadas estão Cingapura, Coreia do Sul, Portugal e Polônia, todos com notas acima da média dos países membros da OCDE.
Na última avaliação do Pisa, que foi feita em 2018 e divulgada em 2019, o Brasil teve nota 382 em matemática, por exemplo, enquanto a média OCDE é de 489. Em Ciência, foram 404 e 489, respectivamente.
Segundo Portela, se os estudantes brasileiros aumentassem a nota em cerca de 50 pontos, o equivalente à metade do caminho até chegar à média dos países desenvolvidos, o PIB do País já cresceria 1 ponto porcentual. Em toda última década (2011-2020), com recessão e pandemia, o Brasil registrou PIB médio de 0,26%, ao ano, o pior desempenho da história.
<b>Básico</b>
Com a nota atual no Pisa, a maioria dos alunos brasileiros está em níveis considerados abaixo do básico em Leitura, Matemática e Ciência, as três áreas avaliadas pelo Pisa. Mesmo com um aumento na nota nos últimos anos, quatro em cada dez adolescentes do País – o exame é feito aos 15 anos de idade – não conseguem identificar a ideia principal de um texto, ler gráficos, resolver problemas com números inteiros ou entender um experimento científico simples.
Segundo estudos analisados, se o Brasil continuar no mesmo ritmo de desenvolvimento de capital humano, demoraria uma década para chegar ao nível do Chile e três décadas para alcançar nações como Portugal e Japão. A situação ainda piorou com a pandemia de covid-19, cujas pesquisas mostram perda de aprendizagem das crianças em todo o País – especialmente na etapa de alfabetização.
Para De Bonis, o estudo é oportuno para o momento atual, de novo governo, federal e estaduais. "Para que tenham perspectiva de longo prazo e menos imediatista. Talvez não consigam fazer em quatro anos, mas podem criar bases, colocando a educação na centralidade da política."
O Brasil, completa, precisa investir mais em educação, mas também registra desempenho pior do que outras nações de renda semelhante. "É preciso ampliar de forma responsável o investimento na educação, valorizando professor, investindo em infra estrutura."
<b>Orçamento</b>
Durante o governo de Jair Bolsonaro, o Ministério da Educação (MEC) sofreu sucessivos cortes orçamentários, que afetaram o ensino básico e o superior. Não houve ajuda para as escolas durante a pandemia ou políticas públicas para combater a defasagem educacional.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu garantir na PEC da transição cerca de R$ 10 bilhões a mais para a educação, em especial para o reajuste da merenda escolar, ainda não anunciado. Em fevereiro, foram divulgados aumentos no valor das bolsas de pós-graduação, mas ainda são aguardados novos investimentos.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>