O Brasil deveria evitar ao máximo tocar em assuntos polêmicos durante o encontro dos Brics – acrônimo para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que ocorre, em Joanesburgo, capital da África do Sul, o "S" da sigla. A análise é do Conselho de Relações Internacionais da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), coordenado pelo economista André Sacconato.
Para o economista, se afastar de assuntos polêmicos na reunião dos Brics, em meio a um cenário global turbulento, implica em o Brasil se distanciar dos temas delicados que hoje atravessam o bloco, como as relações conflituosas com os Estados Unidos e a China, e a invasão da Ucrânia pela Rússia, por exemplo.
"O Brasil precisa se valer do encontro do Brics, em Joanesburgo, a partir desta terça-feira (22), para colocar na mesa temas de interesse comum do grupo, como o desenvolvimento humano, o combate à pobreza, a diminuição de barreiras alfandegárias e as mudanças climáticas", avalia Sacconato.
Ele lembra que essa será a 15ª vez na história que os países do bloco se encontrarão. Desta vez, estarão juntos os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil; Xi Jinping, da China; Cyril Ramaphosa, da África do Sul, além do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e do chanceler da Rússia, Sergey Lavrov, representando Vladimir Putin – que, há um mês, avisou que não participaria.
Na visão da entidade, qualquer decisão tomada em solo sul-africano que toque em temas sensíveis trará prejuízos à posição brasileira no exterior.
"É por isso que, na geopolítica contemporânea, o Brics é um formato perigoso", afirma Sacconato.
Além disso, para a Federação e seu conselho, o Brasil deve garantir que nenhum outro país integrará o bloco, ao menos por enquanto. Recentemente, a diplomacia sul-africana revelou que mais de 20 países já pediram para se tornar membros do grupo, como a Argentina, o Irã e a Arábia Saudita.
"Para o País, aceitá-los significaria dois problemas: diluição do seu poder de barganha nas decisões relevantes dentro do grupo e aumento das chances de precisar referendar medidas que não aprove na sua totalidade. Mais importante ainda é evitar que o Brics se torne um bloco antagônico aos Estados Unidos e ao mundo ocidental.
Apesar de ser um manejo político difícil, o Brasil deve fazer todo o esforço possível para não deixar o grupo seguir nessa rota, o que seria extremamente perigoso para a própria posição no tabuleiro global, considera Sacconato.
Para ele, também é ocasião relevante para situar melhor o debate em torno de uma moeda única entre os países-membros. Por um lado, essa pode ser uma oportunidade real para discutir alternativas ao dólar – como Brasil e China já fazem em trocas comerciais, inclusive usando o renminbi.
Por outro, diz Sacconato, uma circunstância propícia para observar o longo caminho que há para se criar uma moeda única, ideia que foi ventilada desde o início do ano por diferentes líderes dessas nações.
No entendimento da FecomercioSP e do Conselho de Relações Internacionais, só é possível pensar em uma moeda comum em um cenário de convergência de condições macroeconômicas, com situações de dívida externa, déficit e modelo de câmbio semelhantes entre si. Na atual conjuntura, o que acontece é exatamente o contrário, ainda mais considerando a presença (e força) da Rússia no bloco.
"Se o Brasil seguir com essa agenda no encontro na África do Sul, haverá êxito diplomático. Não será fácil, mas necessário", afirma o coordenador do Conselho de Relações Internacionais da FecomercioSP.