O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, acredita que o Brasil vai sair da recessão neste trimestre e que deve crescer no próximo ano. Há, conforme ele, vários sinais que indicam esse movimento, incluindo a melhora de variáveis financeiras como o câmbio, a redução dos juros longos e ainda a queda do CDS brasileiro (contratos de proteção contra calote, ou “credit default swap”, em inglês).
“Essas variáveis financeiras antecedem o que vai acontecer na economia que deve apresentar grande melhoria. Além disso, os indicadores de confiança tanto por parte dos consumidores como dos empresários e de vários setores da economia melhoraram bastante em relação ao ano passado”, avaliou Portugal, em conversa com jornalistas, durante o 6º Congresso Internacional de Gestão de Risco, promovido pela Febraban, acrescentando que também há dados reais como a melhora da indústria.
Apesar da queda do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, o investimento melhorou, confirmando que o Brasil está num processo de recuperação gradual e regular assim como a inflação segue numa trajetória de desaceleração, na visão do presidente da Febraban. Ele ponderou, contudo, que algumas variáveis como, por exemplo, desemprego e crédito, demoram um pouco mais para mostrar inflexão, já que também passaram a refletir a recessão do País mais tardiamente.
Para 2017, a oferta de empréstimos no Brasil deve voltar a crescer, afirmou. Murilo Portugal explicou que o endividamento das famílias dificulta uma retomada mais rápida do crédito, mas que esse processo se dará de forma gradual.
Sobre a inadimplência, Portugal não fez projeções, mas disse que os calotes no Brasil se estabilizaram e que os bancos estão bem provisionados para fazerem frente aos riscos assumidos uma vez que possuem 79% a mais de provisões que o volume de crédito vencido.
Situação de estresse
Os planos de recuperação que serão apresentados pelo sistema bancário brasileiro no final deste ano vão contribuir para preservar o funcionamento do setor em situações de estresse, de acordo com o presidente da Febraban. “Os Planos de Recuperação darão maior previsibilidade, transparência e segurança na adoção de estratégias para preservar o normal funcionamento do sistema financeiro nacional em situações de estresse”, destacou ele.
Portugal lembrou que os grandes bancos vão começar a apresentar gradualmente a partir do final desse ano seus planos de recuperação, conforme as diretrizes estabelecidas pelos Key Atributes do Financial Stability Board (FSB). De acordo com ele, essa foi uma inovação que surgiu após a crise financeira internacional e que as instituições financeiras no Brasil estão se adaptando. O plano de recuperação será definido por cada banco que levará em conta, conforme o presidente da Febraban, seu tamanho, exposição, setor, modelo de captação, etc.
Também enfatizou que os níveis de liquidez dos bancos brasileiros superam “largamente” suas obrigações de curto prazo e estão “bem acima” dos encontrados nos maiores sistemas bancários mundiais, o que preserva o País de cenários de estresse de liquidez. Segundo ele, o Índice de Liquidez de curto prazo do sistema bancário, o LCR de Basileia 3, que já vigora para os grandes bancos brasileiros desde outubro de 2015, estava em 193% em junho de 2016, bem acima do mínimo de 100% a ser requerido em 2019 e dos 125% dos maiores bancos globais, de acordo com os dados do BIS de dezembro de 2015.
Sobre a implementação das novas regras de Basileia 3 no Brasil, Portugal afirmou que o setor bancário brasileiro já avançou bastante, mas que ainda está na metade da implantação da regulação que começou em 2013 e se estenderá até 2019. Ele disse ainda que o segmento tem procurado adotar as novas regras de forma “programada para minimizar eventuais impactos sobre a economia brasileira”. “O resultado deste processo é bastante positivo e a adoção das novas regras está confirmando para o mundo a boa situação dos bancos brasileiros, em comparação aos internacionais”, avaliou ele.
De acordo com o presidente da Febraban, o sistema bancário brasileiro está bem capitalizado, provisionado, além de sólido e bem regulado e tem enfrentado o maior rigor regulatório sem impactos abruptos para a economia e a sociedade. Citou como exemplo, o Índice de Basileia (capital total) que estava em 16,5% ao final de junho enquanto o Índice de Capital Principal de Basileia 3, o de maior qualidade, atingiu 12,3%, ante 11,8% dos maiores bancos globais e frente a um mínimo regulatório de 7% em 2019, sendo de 8% para as instituições financeiras domesticamente importantes no Brasil.
“O sistema se enquadra com folga no requisito mínimo de Alavancagem de Basileia 3, medido pelo nível de Capital de nível 1 sobre os Ativos Nominais. Os bancos brasileiros também perseguem estratégias conservadoras de avaliação de risco das suas carteiras de crédito, o que tem se mostrado particularmente relevante e preservado a rentabilidade do sistema nesse atual momento econômico desafiador”, avaliou Portugal.