O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, esteve na semana passada no Senado Federal para falar sobre o papel do banco público de fomento de investimentos e sua relação com o desenvolvimento do País. Durante mais de três horas, o que se viu foi uma explanação sobre um país das maravilhas, onde o faz de conta prevalece sobre a verdadeira realidade do setor produtivo.
Em vez do debate proposto, o Senado tratou de blindar o presidente do BNDES de forma que prevaleceu o samba de uma nota só, quando apenas Coutinho falou sem permitir que os parlamentares presentes pudessem – ao menos – contrapor suas ideias. Assim, não foi difícil desenhar um cenário em que prevaleceu o céu azul ao fundo, com pessoas felizes e saltitantes, como se tudo fosse apenas sombra e água fresca.
Fosse tudo o mar de rosas alardeado por Coutinho, o Brasil não estaria amargando um dos piores índices de desenvolvimento de sua história, com um pibinho de dar vergonha a quem trabalha incansavelmente por um país melhor. A indústria, principal pilar da produção, não acumularia quedas e mais quedas em seus índices de crescimento e geração de empregos. O Brasil também não estaria às voltas com o descontrole da inflação, que penaliza principalmente o trabalhador.
O presidente do BNDES é um dos responsáveis por deixar de lado o aspecto social do banco, já que até hoje, nestes dez anos de governo do PT, a instituição preferiu investir a maior parte dos recursos da União a juros baixos em grandes conglomerados econômicos, para a formação dos chamados campeões nacionais. Somente agora, depois do leite derramado, quando o BNDES começa a perder fôlego, decide-se mudar o rumo dos investimentos.
Mas Coutinho, em vez de encarar o problema de frente, seguindo a cartilha do partido do poder, foge do debate, apresentando números evasivos que são engolidos pelos senadores aliados, a fim de evitar que a verdade venha à tona. Fica evidente, então, que os belos discursos não encontram lastro na prática vivida neste país. Que a abertura de crédito para os verdadeiros empreendedores, que trabalham pelo bem do país, não passa de pano de fundo para a propaganda institucional.
Por tudo que se assiste neste cenário, cresce a importância de desenvolvermos mecanismos para fiscalizar tanto o BNDES como outras instituições públicas de fomento aos setores produtivos. Desta forma, não economizaremos esforços para envolver o Congresso Nacional neste debate tão importante para o Brasil. Diferente do Senado, que preferiu apenas escutar a versão oficial, precisamos – como verdadeiros representantes da população, em nome dos interesses do setor produtivo, por meio da subcomissão criada dentro da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio da Câmara Federal – buscar soluções efetivas para que o banco se envolva necessariamente com sua vertente social. Sem demagogia, sem assistencialismo ou politicagem. Mas, acima de tudo, cumprindo seu papel. Que o BNDES desça das nuvens e venha para o Brasil real.
*Carlos Roberto é deputado federal pelo PSDB (SP), presidente da subcomissão de monitoramento dos mecanismos de financiamento dos bancos públicos de fomento, com destaque ao BNDES, e industrial.