No momento em que os países desenvolvidos começam a emergir da crise financeira internacional, o Brasil encontra dificuldades cada vez maiores para vender seus produtos aos Estados Unidos e à União Europeia, perdendo espaço para competidores chineses.
Análise feita pelo jornal O Estado de S. Paulo nas estatísticas de comércio exterior mostra, ainda, clara tendência de deterioração nas exportações nacionais, cada vez mais concentradas em produtos básicos. A presença menor de bens brasileiros nas prateleiras se repete no Mercosul. A troca comercial com o bloco europeu se revela como o pior desempenho do País com parceiros relevantes desde a eclosão da crise em 2009.
Levando em consideração os números do primeiro semestre, o Brasil passou de um superávit comercial, com as exportações nacionais superando as importações, de US$ 3,2 bilhões para um déficit de US$ 2,63 bilhões com os 28 países da UE.
Por sua vez, o crescimento de 76% nas exportações brasileiras para a maior economia do mundo não foram suficientes para inverter o sinal e frear o déficit comercial com os EUA. Se na primeira metade de 2009 o Brasil importou US$ 2,49 bilhões mais do que exportou, nos primeiros seis meses deste ano a conta negativa subiu para US$ 4,73 bilhões, com a exportação dos EUA crescendo 80%.
Segundo o consultor Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do governo Lula, o fraco desempenho não pode ser explicado por uma retração do consumo nesses dois mercados, como ocorreu no início da crise internacional. “A Europa e, sobretudo, os Estados Unidos recuperaram parcialmente suas importações, ao nível pré-crise”, afirma. “Mas esse crescimento foi ocupado por fornecedores de terceiros países, sobretudo asiáticos, em detrimento das exportações brasileiras.”
O comércio exterior brasileiro foi beneficiado na última década pelo forte ritmo de crescimento chinês, com seu forte apetite por alimentos e minérios, além da atuação do governo brasileiro em missões comerciais, que impulsionavam vendas para mercados onde o Brasil não tinha presença tradicional como o Oriente Médio, a África, Oceania e Ásia Central.
Da mesma forma, a piora do quadro tem mais de uma razão, segundo especialistas: a concorrência aumentou durante a crise, com o presidente americano Barack Obama, por exemplo, prometendo dobrar as exportações de seu País, o maior protecionismo de países ricos e o corte de preços promovidos por países emergentes para manter as vendas.
Mais caros
No âmbito doméstico, os produtos ficaram mais caros, por causa dos impostos altos, custos maiores com logística e da inflação persistentemente alta. “O que todos esperam é que os Estados Unidos se tornem mais agressivos na exportação, que passaram a ter custos muito mais baixos com o shale gas (gás de xisto)”, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB). “Não temos preço competitivo, nosso mercado é a América do Sul, porque o custo da logística é baixo, nossas exportações estão num voo de galinha.”
Segundo Castro, a relação com os EUA poderia ser ainda pior. As exportações brasileiras neste ano se concentram em dois produtos: petróleo, que embarca na forma bruta e retorna ao País como gasolina e diesel, e aviões, cujas encomendas foram feitas nos últimos anos e a entrega se concentra neste ano. Não fossem estes fatores, o déficit seria ainda maior.
Em seu governo, a presidente Dilma Rousseff não promoveu nenhuma missão comercial do governo para os EUA. Ao mesmo tempo, tenta concluir as negociações de um acordo de livre-comércio com a UE, que reduziria as tarifas cobradas de produtos brasileiros naquele mercado, mas não deve conseguir avanços até o fim deste ano. Procurado desde segunda-feira, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior não se pronunciou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.