Quem planeja passar as férias a bordo de um navio em um cruzeiro marítimo pela costa brasileira encontrará menos opções disponíveis no próximo verão. Na temporada que começa em novembro e vai até abril de 2017, apenas sete embarcações navegarão em águas brasileiras, três a menos do que no ano passado e bem abaixo das 20 que vieram para cá em 2010, recorde do segmento. Os navios que estavam aqui no ano passado foram alocados para destinos que ganharam relevância no mercado global, como China e Cuba.
Ao todo, as embarcações que partem do Brasil farão 108 roteiros, metade do que foi feito no ano passado, segundo estimativas da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Clia Abremar). Serão oferecidos 382 mil leitos nos navios na próxima temporada, 30% abaixo de 2015 e 60% inferior aos tempos áureos do setor (veja o gráfico ao lado).
De acordo com o presidente da Clia Abremar, Marco Ferraz, os armadores, donos dos navios, são grupos multinacionais que escolhem onde vão alocar as embarcações a cada temporada. A crise econômica, tarifas portuárias acima da média global e a expansão da demanda em outros destinos pesaram contra o Brasil.
O grupo Royal Caribbean, que tinha três navios no Brasil no ano passado, saiu do País. Fechou o escritório brasileiro e hoje mantém apenas um representante comercial, focado em vender seus pacotes no exterior. Na época do encerramento das atividades, a empresa justificou a decisão pelo alto custo de operação no Brasil e pela demanda crescente por cruzeiros na Ásia e na Austrália.
Apesar da decisão de sair do mercado brasileiro, um dos navios da empresa, da bandeira Pullmantur, virá ao País este ano. A embarcação foi fretada pela agência de viagens CVC, em uma decisão drástica para não ficar sem pacotes para oferecer aos clientes.
Competição. A conjuntura política e econômica não favoreceu o Brasil na briga com outros destinos pelas embarcações das multinacionais. A MSC Cruzeiros, por exemplo, trouxe quatro navios ao Brasil em 2015 e passou um “sufoco” para encher as embarcações, pois os pacotes eram vendidos em dólar.
“Conseguimos vender toda nossa oferta, mas tivemos de fazer um esforço comercial considerável”, disse o diretor geral da MSC no Brasil, Adrian Ursilli. A empresa travou o câmbio para o cliente na época e reduziu em 20% seu tíquete médio para não ficar com navios vazios. A variação cambial é um problema para os armadores, já que boa parte dos seus custos é em dólar, como combustível, salários e manutenção.
Na hora de decidir a nova temporada, o Brasil perdeu força e dois navios da MSC foram redirecionados para mercados mais atrativos – Cuba e China. “Podíamos ter tirado o navio de outro lugar. Mas nenhum outro País estava na situação de incerteza que o Brasil estava no fim de 2015”, diz Ursilli. Em média, as empresas decidem o roteiro dos navios com pelo menos um ano de antecedência.
O diretor da MSC destaca que a empresa não pretende abandonar o Brasil, que era até o ano passado seu segundo maior mercado, atrás da Itália. A companhia espera a entrega de novos navios em construção para voltar a expandir a frota no litoral brasileiro no verão de 2017/2018.
A Costa Cruzeiros mantém a oferta estável em relação ao ano passado e trará dois navios ao Brasil. Em 2012, eram seis embarcações. “Há três anos, enviávamos relatórios maravilhosos sobre o Brasil para a matriz. Hoje, temos de reportar que há 12 milhões de desempregados e uma crise política”, disse o diretor geral da Costa Cruzeiros para a América do Sul, Renê Hermann. “Agora a China é a bola da vez”, resume, lembrando que o país asiático terá quatro navios da Costa este ano e há outros dois em construção que irão direto para lá em 2018.
Contramão. Enquanto as empresas deixam o Brasil, a americana Norwegian Cruise trouxe seu primeiro navio este ano. A embarcação já navegava na Patagônia e adicionou um trecho entre Rio e Buenos Aires. “Fizemos o planejamento há anos e decidimos seguir em frente”, disse André Mercanti, diretor comercial da empresa. Uma das vantagens de chegar agora é a concorrência menor.