A indústria farmacêutica instalada no Brasil tem cerca de 8,9 milhões de comprimidos de medicamentos à base de cloroquina e hidroxicloroquina. Estes produtos são aposta do presidente Jair Bolsonaro no combate ao coronavírus, mas estão recomendados pelo Ministério da Saúde somente para pacientes internados, pois faltam estudos conclusivos sobre segurança e eficácia da droga. A indústria afirma que tem capacidade para produzir a demanda pelo remédio, mesmo com bloqueios de exportações da Índia, principal fornecedora da matéria-prima.
Os dados de estoques foram enviados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ao Ministério da Economia na segunda-feira passada, dia 6, em ofícios obtidos pela reportagem. A Aspen Farmacêutica tem maior parte do estoque, cerca de 5,15 milhões de comprimidos. Em seguida, a Fiocruz, com 3 milhões.
O Laboratório do Exército está com estoque zerado. O órgão informou para a Anvisa que tem insumos para produzir 250 mil comprimidos, mas falta material para embalar o medicamento. Bolsonaro já comemorou que a instituição iria ampliar a produção da droga.
Além de ser testada contra a covid-19, as substâncias são usadas em medicamentos contra a malária, reumatismo, inflamação nas articulações e lúpus, entre outras doenças.
Na lista de estoques enviadas pela Anvisa, há medicamentos de diferentes fórmulas e apresentações. Segundo fontes da indústria ouvidas pela reportagem, é difícil precisar quantos pacientes podem ser atendidos por este estoque, mas a quantidade é "segura" e há perspectiva de ampliar a produção.
O grupo EMS, por exemplo, disse à Anvisa que pode fabricar até 1,4 milhão de comprimidos de sulfato de hidroxicloroquina 400 mg no começo de abril. Já a Aspen projetou mais 5,8 milhões de unidades até 24 de abril. A Cristália afirmou conseguir fabricar 1,35 milhão de comprimidos nas próximas semanas. Já a Fiocruz estimou para a Anvisa que entrega 4 milhões de unidades em até 30 dias a partir do pedido para a produção.
Principal produtora de material para fabricação destes medicamentos, a Índia bloqueou exportações de alguns fármacos. Ainda assim, a indústria brasileira diz ter capacidade de produção. "Com alguma dificuldade, não acreditamos, nesse momento, em desabastecimento, apesar de um aumento exponencial dos custos de matéria-prima, fretes, entre outros", disse Nelson Mussolini, presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), que reúne as principais empresas do setor no Brasil.
<b>Remédio opõe Bolsonaro e Mandetta</b>
A forma de uso de medicamentos à base de cloroquina e hidroxicloroquina opõe o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o presidente Jair Bolsonaro. O mandatário pede distribuição mais ampla do produto para pacientes com casos leves, entrega em postos de saúde e até para uso preventivo a quem sequer tem sintomas.
Mandetta voltou a afirmar na terça-feira, 7, que não está nos planos, considerando os estudos atuais, liberar de forma mais ampla o produto. A ideia é que o tratamento seja feito em ambiente controlado. O ministério recomenda o uso dos produtos a pacientes internados. Mandetta reafirmou na terça que médicos sempre puderam receitar o tratamento a casos mais leves, assumindo riscos e responsabilidades.
No fim de março, a Anvisa determinou que a venda da cloroquina só pode ser feita com receita branca especial em duas vias. A medida foi uma forma de controlar a ida desenfreada às farmácias e a automedicação.