Brasil tem 849 novas mortes; Bolsonaro interferiu para reduzir nº de registros

O Brasil registrou 849 novas mortes e contabilizou mais 19.631 infectados pelo novo coronavírus nas últimas 24 horas, segundo levantamento conjunto feito pelos veículos de comunicação <b>Estadão</b>, <i>G1, O Globo, Extra, Folha de S.Paulo</i> e <i>UOL</i> e divulgado nesta segunda-feira (8). Conforme os dados reunidos, o País soma 710.887 registros de infectados e 37.312 óbitos pela doença. O governo federal tem sido criticado por restringir acesso a dados sobre o avanço da pandemia.

No último dia 3, quando o Brasil bateu recorde de óbitos pela doença (1.349), a gestão Jair Bolsonaro atrasou a divulgação do balanço. O boletim só foi liberado às 22 horas – e costumava sair entre 19h e 20h. O atraso continuou nos boletins seguintes e, no dia 5, Bolsonaro disse: "Não vai ter matéria no Jornal Nacional", referindo-se ao noticiário da TV Globo, o de maior audiência no País. Naquele dia, a plataforma online do governo com dados de infecções e mortes também saiu do ar.

Além do atraso na divulgação de estatísticas, a gestão Bolsonaro sinalizou que iria "recontar" mortos por covid, alegando notificações a mais por Estados e municípios. As declarações e a postura do governo foram alvo de críticas por parlamentares, juristas e cientistas, além da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Após a forte repercussão negativa, o ministério recuou e voltou a divulgar os números por volta das 18 horas desta segunda – e prometeu manter esse padrão. Conforme o balanço de ontem do ministério, houve 679 novas mortes e 15.654 casos a mais.

A mudança na forma como o governo divulga dados da doença ocorreu após Bolsonaro determinar que o número de mortes ficasse abaixo de mil por dia. A ordem foi repassada ao ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, que entregou a demanda a sua equipe.

Para se enquadrar no limite imposto, a solução foi separar óbitos ocorridos nas últimas 24 horas dos que haviam ocorrido em dias anteriores, mas só confirmados naquele período.

Antes, o ministério somava todas as mortes registradas em um mesmo dia, independentemente de quando ela havia ocorrido. Com a dificuldade de fazer testes e processar esses exames, parte dos óbitos leva mais de um mês para ter o diagnóstico confirmado.

A estratégia do Palácio do Planalto é uma tentativa de demonstrar que não há escalada da doença fora de controle e, ao mesmo tempo, apontar que há exagero da imprensa. A ideia é mostrar que o número de mortes nunca esteve acima de mil por dia, mas só a consolidação dos dados de pacientes que morreram em datas anteriores.

A ginástica na forma como trata os dados foi sugerida em um vídeo do empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan e defensor de Bolsonaro, no qual diz "não condizer com a realidade" informar que mais de mil mortes pela covid-19 foram confirmadas num único dia. A publicação do apoiador do governo foi enviada pelo secretário executivo da Saúde, coronel Elcio Franco Filho, a sua equipe. A distribuição do vídeo foi noticiada pelo jornal <i>Valor Econômico</i> e confirmada pelo <b>Estadão</b>.

A soma dos dados segue o padrão internacional. O problema de dividir os números é que a pasta deixaria de fora pacientes que tiveram a morte confirmada por covid fora do período contabilizado. Uma pessoa que morreu na segunda, mas só teve a comprovação da causa um dia depois, não apareceria na estatística de terça nem em qualquer outra, uma vez que o governo não divulga mais o histórico.

Pazuello, que não é médico, assumiu provisoriamente o comando da Saúde em 15 de maio e tem adotado medidas que atendem ao desejo de Bolsonaro: já ampliou orientações de uso da cloroquina, demitiu funcionários que assinaram nota sobre aborto e acabou com as entrevistas diárias de técnicos sobre a pandemia. Os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich deixaram o governo após resistirem em seguir diretrizes do Planalto.

<b>Recuo</b>

Segundo Franco, o motivo das mudanças na divulgação foram "técnicos". "Estamos numa análise de melhoria de processos. Precisamos da alimentação dos dados por parte de Estados e municípios", disse Franco. "Não houve interferência de ordem alguma nesse trabalho, que é de ordem técnica."

O secretário substituto de Vigilância, Eduardo Macário, disse que o governo não está minimizando os dados. "Pelo contrário, a gente quer comunicar da melhor forma possível." O ministério promete divulgar dados em uma "plataforma interativa", a ser lançada esta semana. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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