O presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, afirmou que o Brasil tem sido uma "parte muito ativa" na discussão sobre os desafios do financiamento climático necessário para o mundo nos próximos anos. "O Brasil é uma parte muito ativa do diálogo. Na presidência do G20, o Brasil tem uma ambição muito grande de se concentrar no combate à pobreza e também à fome", disse Banga, em conversa com jornalistas, para comentar as reuniões de Primavera do Banco, que acontecem na próxima semana, em Washington DC, nos Estados Unidos.
Por trás, está uma agenda de crescimento para o Brasil, segundo ele. "Subjacente a tudo isto está um plano de crescimento para o Brasil que parte da ambição do presidente Lula e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de usar o crescimento verde como forma de virar a maré no País", acrescentou.
O presidente do Banco Mundial voltou a reconhecer os esforços do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no combate ao desmatamento na Amazônia. "O Brasil fez grandes avanços nas taxas de desmatamento que ocorria antes de o presidente Lula assumir. Ele mudou muita coisa por lá", disse.
Conforme Banga, o Brasil está "muito engajado" em toda a agenda climática não só em relação à mitigação ou adaptação, mas também no que diz respeito ao solo, à biodiversidade e à natureza durante a presidência do G20 e na realização da Conferência do Clima sobre Mudanças Climáticas (COP 30), no próximo ano.
Ele informou ainda que terá outra reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na próxima segunda-feira, dia 15, quando começam os encontros de Primavera do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
De acordo com fontes, essa agenda seria virtual e ainda precisa ser confirmada. Haddad embarca para Washington DC para participar desses encontros e ainda agendas do G20, sob a liderança do Brasil, na noite da segunda-feira, dia 15, e retorna ao País no início da noite da sexta-feira, dia 19.
<b>Papel da América Latina</b>
O presidente do Banco Mundial disse ainda que a América Latina tem um "papel muito importante" na nova estratégia do organismo, mas desafios em termos de crescimento. Ex-CEO da Mastercard, ele assumiu o comando da instituição há quase um ano, em junho de 2023, no lugar de David Malpass, que liderava o grupo desde 2019.
"A América Latina continua a ser uma parte muito importante dos esforços e da energia do Banco Mundial", afirmou Banga.
O Banco Mundial acaba de divulgar projeções mais pessimistas para a América Latina e Caribe. O organismo cortou a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) da região para 1,6% neste ano, contra previsão anterior de alta de 2,3%. "Algumas das projeções de crescimento da América Latina são desafiadoras, mas a revisão é impactada pelas circunstâncias da correção da Argentina", explicou Banga.
De acordo com ele, o Banco Mundial está trabalhando na América Latina em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), presidido pelo brasileiro Ilan Goldfajn. Dentre as ações, Banga mencionou a arrecadação de recursos para a proteção da Amazônia, cláusulas climáticas nas dívidas dos países e avanço na educação e educação digital na região, corrigindo as lacunas geradas durante a covid-19. "A América Latina desempenha um papel muito importante. E é um dos mercados interessantes para o nosso escopo de trabalho", concluiu.
<b>Rolagem de dívidas soberanas</b>
O presidente do Banco Mundial também reforçou o coro quanto à gravidade da situação da dívida de alguns países de baixo rendimento na esteira da covid-19 e em meio aos juros altos no mundo desenvolvido. Apesar disso, o fato de os mercados financeiros estarem abertos e a futura queda de juros nas economias ricas devem ajudar a rolagem dos empréstimos soberanos, na sua visão.
"A boa notícia é que os mercados não estão congelados e são capazes de rolar e financiar as dívidas dos países com necessidade", disse ele.
Na sua visão, essa foi uma mudança positiva que ocorreu nos últimos meses. "Essa é uma boa mudança de ambiente", avaliou.
A queda de juros nas economias desenvolvidas também é positiva, disse. "Se as taxas de juro começarem a descer durante o próximo período, isso também ajudará na situação dos países que precisam refinanciar as suas dívidas", afirmou. Embora as expectativas do primeiro corte de juros nos Estados Unidos tenham sofrido recorrentes postergações neste ano, acadêmicos e organismos multilaterais já vinham antecipando a possibilidade de as taxas começarem a cair somente no segundo semestre.
Os processos de recuperação de dívida dos países serão um dos focos das reuniões de Primavera do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI). "Os juros altos estão aumentando o custo dos serviços de dívida nas economias avançadas, mas a situação é mais dolorosa nos países de baixos rendimentos", disse a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, em evento do <i>think thank</i> Atlantic Council, na quinta, para comentar a agenda dos encontros.
O presidente do Banco Mundial, por sua vez, reforçou a gravidade do problema. "O fato de muitos dos países mais pobres do mundo estarem a enfrentar uma intensa crise da dívida, juntamente com a questão das taxas de juro altas e um crescimento global mais fraco e, mesmo com a valorização das moedas estrangeiras, é um problema e ninguém pode descartar a gravidade disso", avaliou.
A conclusão da reestruturação da dívida da Zâmbia é um exemplo a ser seguido, conforme Georgieva e Banga. Mas, o desafio, conforme o presidente do Banco Mundial, é apoiar outros países em necessidade e baixar o custo de suas dívidas. "O que estamos tentando fazer é concentrar-nos na análise da sustentabilidade da dívida, na transparência e depois nos fluxos positivos líquidos, e conceder financiamento a todos estes países para ajudá-los durante este período", finalizou ele.