Estadão

Brasil vive momento de confusão nas instituições, diz Lula à imprensa estrangeira

O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou nesta segunda-feira (22) em declaração à imprensa internacional que o Brasil vive momento de "confusão nas instituições". No discurso, feito em hotel em São Paulo, o petista declarou que o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, não respeita as instituições.

"Estamos vivendo situação anômala, em se tratando de país democrático. O Brasil nesse instante vive momento de confusão nas instituições brasileiras porque o presidente faz questão de não respeitar as instituições que foram criadas para fortalecer o processo democrático brasileiro", afirmou Lula aos jornalistas estrangeiros.

"Esse país está como se fosse um pária da sociedade, porque ninguém quer conversar com nosso governo e nosso governo não quer conversar com ninguém", acrescentou, ao destacar a boa relação do País com o mundo ao longo de suas gestões no Executivo.

Lula reafirmou que, quem for eleito em outubro pegará um Brasil pior dos pontos de vista político, econômico e social do que ele recebeu ao ganhar as eleições pela primeira vez, em 2002. "Quem ganhar em 2023 vai ter tarefa imensa, e nobre, de recuperar as relações internacionais", avaliou o candidato. "Há muita fake news na tentativa de conturbar boas intenções e cabeça de brasileiros", seguiu, sem citar a recente enxurrada de fake news sobre uma suposta oposição entre o PT e as igrejas evangélicas, movimento protagonizado pelo bolsonarismo.

Para Lula, o Brasil tem "potencial extraordinário de voltar a ser protagonista internacional" devido à sua experiência. "A gente estabeleceu relação democrática, proveitosa e virtuosa, relação ativa e altiva", destacou o candidato. "Nós participamos da tentativa de procurar alternativa na crise do subprime e depois na crise da quebra do Lehman Brothers. Tudo acabou desde o golpe da presidenta Dilma Rousseff".

<b> Governança mundial </b>

Lula também avaliou ser necessária a criação de uma "nova governança mundial" para discutir as questões climáticas "com mais seriedade e respeitabilidade" Ele pediu o nascimento de instituições que "ajam diferente" do Fundo Monetário Internacional (FMI). "O Brasil vai cuidar da questão do clima como jamais cuidou", prometeu, se eleito.

"O Brasil tem potencial extraordinário de voltar a ser protagonista internacional, discutindo em igualdade de condições com todos os países do mundo. Inclusive para que a gente possa inclusive discutir uma nova governança mundial", declarou o ex-presidente. "Tudo que foi criado em 1948, depois das Nações Unidas, é preciso que haja certa renovação. É preciso que haja outras instituições, que ajam diferente do FMI, é preciso que haja outros países participando do Conselho de Segurança. uma nova geopolítica mundial para discutir essa questão climática", acrescentou.

Na avaliação de Lula, esse novo entendimento mundial deveria balizar as questões climáticas para todos. "É preciso ter nova discussão sobre questão climática e nova governança mundial. Porque sobretudo na questão do clima, é preciso que a gente decida a nível internacional e que essa decisão valha para todos os países do planeta", argumentou.

Ao citar a Amazônia, o petista defendeu a soberania brasileira, mas citou a possibilidade de "cooperação com a ciência". "Explorar todo potencial de nossa biodiversidade para saber o que a gente pode produzir, seja na indústria de comércio, seja na de fármaco, para a gente gerar melhoria de vida e emprego para 28 milhões de pessoas que moram na região amazônica", declarou, prometendo discutir a questão da Amazônia "com muito carinho" junto a todos os países da região.

"Não precisamos derrubar mais nenhuma árvore para plantar mais soja", defendeu, em aceno à pauta ambientalista cara ao público internacional. Na entrevista, Lula também afirmou que "é plenamente possível você fazer uma luta muito dura contra o desmatamento, queimadas nesse País, envolvendo prefeitos".

<b>Juros e inflação</b>

Lula prometeu que um eventual novo governo petista faria um "trabalho duro" para baixar juros e inflação no País. "Vamos ter que fazer um trabalho imenso, duro, de muita seriedade para trazer a taxa de juros para número considerado razoável pela sociedade brasileira. Segundo, trabalhar para trazer a inflação para patamar que seja razoável", afirmou na entrevista à imprensa internacional.

O ex-presidente garantiu que a situação econômica desafiadora não é "novidade" para ele. "Para mim não existe novidade em pegar o País na situação que está hoje. Eu já peguei uma vez. O que acontece é que agora está mais desindustrializado do que estava em 2003", declarou. "O Estado brasileiro vai ter que fazer grande investimento em obras públicas, o Estado precisa ser indutor de crescimento", seguiu.

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