O lateral-esquerdo Wendell, do Bayer Leverkusen, da Alemanha, começou uma rotina nova de trabalhos na última semana. Após cerca de um mês sem sair de casa pelo temor com a pandemia do novo coronavírus, o jogador de 26 anos e outras centenas de colegas que disputam o campeonato local, a Bundesliga, começaram um outro regime de treinos. Com trabalhos em quartetos, vestiário fechado e conversas contínuas com médicos, o primeiro dos principais países da Europa a retomar as atividades já sonha com o retorno do calendário.
Em entrevista ao <b>Estado</b>, Wendell contou como tem sido a volta aos treinos dos principais times alemães. O país registra até agora 130 mil casos do novo coronavírus e cerca de 3 mil vítimas fatais, uma das taxas de mortalidade mais baixas do mundo. O campeonato está suspenso desde 13 de março, quando o time do lateral-esquerdo estava na quinta colocação da tabela de classificação.
"Nós estamos treinando em pequenos grupos, separados por horários. São uns quatro ou cinco jogadores de cada vez", disse Wendell. A preocupação com o contágio continua, mesmo com o elenco já de volta ao trabalho. "Existe um cuidado com o distanciamento. O cozinheiro faz a alimentação e deixa pronta a marmita para nós na saída. O refeitório está fechado e o vestiário também. O banho a gente tem de tomar em casa. Já vamos treinar vestidos com o uniforme do clube", explicou.
O mesmo sistema de treinos tem sido aplicado por outros times alemães, como o Bayern de Munique. A direção do campeonato local reuniu os clubes para elaborar esse planejamento. A prioridade das equipes é fazer trabalhos que não exponham aos jogadores a contatos muito próximos entre si. No Bayer Leverkusen, há o cuidado de se ter um revezamento de horários das turmas que vão para o trabalho no centro de treinamento, para evitar o encontro de vários atletas em uma mesma faixa do dia. Esse sistema tem sido observado pelo Flamengo, que avalia realizar experiência parecida.
No Bayer Leverkusen, os jogadores têm encontros regulares com o médico da equipe para receber orientações sobre a pandemia e serem monitorados. "Treinar assim é bem melhor do que ficar em casa. Você volta a ter contato com o futebol, vê alguns colegas. Todos nós do time gostamos muito", disse Wendell. Na sexta temporada na Alemanha, o lateral-esquerdo foi um dos escolhidos pelo treinador da equipe para negociar a redução salarial. O brasileiro e mais outros quatro companheiros atuaram como representantes do elenco nas conversas com a diretoria. Todos aceitaram ter uma diminuição temporária nos vencimentos.
Wendell afirmou que a Alemanha pretende retomar o campeonato no início de maio. A tendência é os jogos serem com os portões fechados. "Vamos ter de nos adaptar a jogar sem torcida. A Alemanha é uma das ligas com média mais alta de público. Será estranho não ter ninguém e dentro de campo ter aquele silêncio", disse. Em Leverkusen, o jogador vive com a namorada e faz contato frequente com os familiares para saber novidades sobre o avanço da pandemia no Brasil.
Para o lateral-esquerdo, a Alemanha tem conseguido lidar melhor com o novo coronavírus por ter conseguido cumprir melhor o isolamento social. "O povo aqui respeita as ordens das autoridades. Na primeira semana as pessoas não levaram à sério a recomendação, mas depois a polícia começou a punir e o governo fez outros pedidos para ficarem em casa. Aqui tem muito infectado, mas tem um número menor de mortes porque existe um respeito e a consciência de que não se pode infectar o próximo", explicou.