Para 69% dos brasileiros, houve aumentos expressivos de preços nos últimos seis meses e, para 73% das pessoas, a política econômica do governo é a principal responsável. Os dados são de uma pesquisa estimulada do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp e Ciesp), realizada em parceria com o instituto de pesquisa Ipsos. A pesquisa mostrou também que a maioria dos entrevistados (89%) não concorda com o aumento de juros como forma de controle da inflação. Os dados divulgados variam entre as diferentes faixas de renda, grau de instrução e faixas etárias.
De acordo com a levantamento, a inflação foi sentida principalmente na Região Nordeste, onde 73% dos entrevistados disseram sentir grande aumento de preços. Em seguida, aparecem as regiões Norte/Centro-Oeste e Sul, com 70%. A região onde a inflação foi menos sentida foi a Sudeste, onde 68% das pessoas ouvidas disseram ter notado grandes aumentos de preços.
Na avaliação feita por faixa de renda, 70% das pessoas ouvidas da classe D/E perceberam grandes aumentos de preços nos últimos seis meses. Entre os entrevistados das classes A/B e C, esse porcentual é menor, de 67% para ambos.
De acordo com o grau de instrução, a pesquisa mostra que 72% dos analfabetos ou com primário incompleto ou completo disseram sentir a inflação. Já entre aqueles que têm ginásio incompleto ou completo, esse porcentual chega a 68%. O aumento de preços nos últimos seis meses foi sentido por 63% das pessoas que possuem superior incompleto, completo ou mais.
Quando analisado por faixa etária, o maior porcentual (72%) daqueles que mais sentiram a inflação está entre os entrevistados de 25 a 34 anos. Em seguida, estão pessoas entre 45 e 59 anos, com 70%; entre 35 e 44 anos, 69%; entre 16 e 24 anos, 66%. Entre as pessoas com 60 anos ou mais, a inflação está alta apenas para 65% dos ouvidos pela pesquisa.
O diretor titular do Depecon, Paulo Francini, destaca que a percepção com relação à inflação é diferente entre os diferentes segmentos da população porque está relacionada à forma como cada pessoa administra o próprio orçamento. “Para os brasileiros com renda menor, a inflação de itens como alimentação pode se fazer sentir mais, enquanto os gastos com serviços podem pesar mais entre aqueles com renda maior”, diz o diretor.
O item alimentação e bebidas foi citado por 90% dos entrevistados da pesquisa como aquele que mais sofreu variação de preços nos últimos seis meses. Em seguida, aparecem habitação (citado por 44% das pessoas ouvidas) e alimentação fora do domicílio (30%). O estudo revela ainda que 87% dos entrevistados percebem que o salário que ganham “não tem compensado o aumento de preços”.
Causas
Além da política econômica do governo, a crise econômica internacional é apontada por 10% dos brasileiros ouvidos como motivo para a elevação de preços. Outros 7% indicam as empresas como causadoras da inflação, e 3% apontam os próprios consumidores como responsáveis.
Sobre juros, a maioria dos entrevistados (89%) declarou não concordar com o aumento da Selic como forma de controlar a inflação. A maior parte (93%) dessas pessoas possui renda familiar superior a R$ 1,8 mil. Para 45% dos entrevistados, o principal impacto do aumento da Selic é o desestímulo em contrair novas dívidas, enquanto 38% apontam o aumento do valor das dívidas contraídas como o principal impacto.
A pesquisa da Fiesp e Ciesp ouviu 1.000 pessoas em todas as regiões do País, entre os dias 17 e 31 de maio. O objetivo, de acordo com as instituições, é “levantar a opinião dos entrevistados a respeito de suas percepções quanto à inflação e suas possíveis causas e consequências”.