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Brazilian phonk: Por que o funk de bailes de SP ganhou outro nome e se espalhou pela Europa?

Já não é segredo a capacidade de a música brasileira ultrapassar fronteiras e explodir internacionalmente. Prova disso é o espaço que o samba, a MPB e, principalmente, a bossa nova ganharam para além do Brasil.

Porém, o cenário musical brasileiro mudou e, agora, o que mais brilha os ouvidos dos "gringos" é o funk. Segundo uma pesquisa feita pelo Spotify o funk carioca e o funk ostentação, juntos, somaram um aumento de 33% de execuções fora do País no ano passado. Os países que mais escutam o funk, além do Brasil, são Portugal, Estados Unidos, Itália, França e Argentina.

Um novo rótulo, impulsionado pelo fenômeno do TikTok, também vem tomando cada vez mais espaço em locais longínquos do País, especialmente entre jovens naturais do leste europeu. É o Brazilian phonk. Ele gera sucesso e polêmica. Há dois pontos de vista:

Há quem diga que é apenas a batida do funk brasileiro com um rótulo "gourmetizado" e revendido para europeus
Outros defendem que o Brazilian phonk tem suas particularidades, já que o nome deriva de um subgênero do rap dos EUA, e ainda é oportunidade para espalhar a arte brasileira
Não são poucos que veem apenas nova embalagem para um produto já conhecido nos bailes de SP: o funk "mandelão" e outras ramificações, como "bruxaria" e "submundo". É o que explica Alana Leguth, co-fundadora da produtora Kondzilla, que teve papel importante na popularização internacional do funk paulistano, e fundadora do Hervolution, iniciativa voltada para o espaço feminino no estilo.

O "mandelão" é criado com uma batida de funk a 130 ou 140bpm, segundo ela, com sintetizadores. O estilo é muito ouvido nos bailes de São Paulo, como o popular Baile da DZ7, em Paraisópolis, zona sul da capital paulista.

<b>Phonk é subgênero do hip-hop e ganhou mistura com funk recentemente</b>

O rótulo "phonk" (sem o "brazilian" acoplado) surgiu nos EUA. Os DJs e produtores DJ Ramemes, Newera, SR Edu e Adresz, do grupo Humildes, explicam que o estilo nasceu como um subgênero do hip-hop.

Eles comentam que o phonk incorpora vocais do memphis rap (estilo pesado e popular em Memphis, nos EUA, nos anos 90). Por ter raízes americanas, o gênero também ficou caracterizado por usar samples de jazz e da Motown dos anos 1970 e 1980.

O estilo começou a tatear terras brasileiras por volta de 2017, segundo Ramemes, Newera, SR Edu e Adresz, principalmente na plataforma Soundcloud. O Brazilian phonk ganhou os ares que possui hoje com o drift phonk, popularizado, principalmente, pelo artista norte-americano Kordhell.

<b>Um norueguês foi pioneiro do Brazilian phonk</b>

Mais tarde, o gênero receberia o nome combinado com Brazilian muito graças ao trabalho do norueguês William Rød, de 21 anos, mais conhecido como Slowboy. Ele admite que foi inspirado pelo funk brasileiro. Ele contou que foi apresentado à música MTG – Maldição Eterna 1.0, do DJ GLK, por um amigo e dono do estúdio Aurorian Records, o que despertou a ideia de misturar phonk com funk brasileiro.

"Eu segui com essa ideia em janeiro de 2023 e fiz uma música em 30 minutos", relata o artista. A faixa, chamada Brazilian Phonk Mano, foi a responsável por dar início ao movimento do Brazilian phonk e, segundo Slowboy, é sua música mais ouvida.

Depois disso, ele passou a se inspirar e a ouvir cada vez mais o funk brasileiro. "A percussão, o ritmo e os sintetizadores malucos são o que gosto de tomar como referência nas minhas músicas para desenvolver meu som neste espaço", comenta.

O artista percebe o quanto o gênero vem se tornando uma promessa mundial. "Eu diria que o phonk, no geral, é mais popular no leste europeu, mas ouvintes do mundo todo estão amando esse som", diz.

<b>Brazilian phonk ganha espaço no Brasil</b>

A popularização do ritmo chamou também a atenção de artistas brasileiros. E artistas locais começaram a chamar a atenção de produtores internacionais. Foi o que aconteceu com os músicos MC Ramiro, de 29 anos, e MC Mauro, de 30 anos, que formam o duo Dragon Boys e já ostentam parcerias com Slowboy e Kordhell.

Naturais de São Mateus, na zona leste de São Paulo, os dois começaram a se dedicar à música há 16 anos e viram no Brazilian phonk a oportunidade de viver da arte. Em dois meses, a dupla saltou de 500 mil para 1 milhão de ouvintes no Spotify e passou a ser procurada por produtores de países como Israel, Rússia e Itália.

Apesar de o Brazilian phonk ter se popularizado muito fora do País, os artistas já enxergam o espaço para o sucesso do gênero no berço do mandelão: São Paulo. Eles apontam, com base em dados do Spotify, que a cidade é o local em que suas músicas são mais reproduzidas.

Anteriormente, as reproduções se concentravam nos Estados Unidos e na Alemanha, mas no topo da lista já está o Brasil. Em ordem, os países que mais escutam o Brazilian phonk do Dragon Boys são: Brasil, Estados Unidos, Alemanha, México, França, Turquia, Índia, Inglaterra, Polônia e Itália.

Eles, inclusive, já organizaram um baile phonk, primeiro festival do gênero. "A galera daqui está consumindo. O que a gente está tentando fazer é trazer isso para nós", comenta Mauro.

<b>Apropriação cultural ou oportunidade?</b>

Por ser um ritmo que se popularizou recentemente, principalmente no exterior, a polêmica em torno do Brazilian phonk se dá, inicialmente, no nome. Afinal, mudar o título de um gênero tão popular já feito há anos na capital paulista para termos em inglês pode ser considerado apropriação cultural?

Artistas e produtores se dividem na resposta. Para Alana Leguth, o phonk nasceu de referências norte-americanas, não brasileiras e, por isso, a produtora não vê o sucesso do Brazilian phonk como apropriação. Ela ressalta que gêneros brasileiros sempre foram bem vistos no exterior.

"Vejamos os exemplos da bossa nova nos anos 1950, axé music nos anos 1990 e Olodum, que cativou grandes artistas como Michael Jackson", diz ela. "É fácil compreender como o ritmo latino sempre encheu os olhos do mercado internacional."

Já Ramemes, Newera, SR Edu e Adresz consideram que o uso do termo pode ser considerado uma apropriação cultural. "É o funk estilo bruxaria criado por brasileiros, que, quando foi feito por um gringo, ele trocou o nome para Brazilian phonk", comentam.

O norueguês Slowboy, que contribui para a criação do nome, defende que o funk e o Brazilian phonk são gêneros diferentes. "Há problemas em entender a diferença e aceitar os dois gêneros. … Mas a música evolui e as pessoas começam a aceitá-la", afirma.

Para os Dragon Boys, porém, Brazilian phonk é sinônimo de oportunidade para brasileiros que nunca haviam conseguido espaço e valorização no País. Os artistas relatam que, antes da popularização do termo, eles já usavam Brazilian phonk como uma tradução para um possível alcance internacional. A dupla também já trabalhava cantando funk com bases de phonk.

Foi graças ao uso de um nome tão popular no exterior que os dois tiveram as portas para o mercado internacional abertas. "A gente já conhece moleques aqui da quebrada que sempre fizeram funk, nunca tiveram reconhecimento nenhum e, graças ao nome, estão sendo contratados por gravadoras da gringa", relata Mauro.

Eles ressaltam que, agora, contam com o apoio de estúdios internacionais e enxergam neles propostas mais claras e honestas do que as sugeridas por gravadoras brasileiras. Para os músicos, o nome Brazilian phonk é, também, uma forma de levar o nome e a cultura do Brasil para o exterior.

"Acho que é a primeira vez que existe um estilo musical que pode virar tendência como o trap, só que, dessa vez, ele leva o nome do Brasil", completa Ramiro.

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