Paris, 27/11/2016 – Brexit no Reino Unido, Donald Trump nos EUA e François Fillon na França. Em comum, três casos que surpreenderam a opinião pública ao longo de 2016 têm o fato de que as pesquisas de intenção de voto, na maioria, erraram muito. O último equívoco aconteceu no primeiro turno das primárias do partido Republicanos (LR), no último domingo, quando o ex-primeiro-ministro Fillon derrubou os prognósticos que o colocavam em terceiro lugar e venceu com mais de 15 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, Alain Juppé. Desde então, diretores de institutos não pararam de dar explicações sobre seus métodos, denunciados como obsoletos pelos detratores.
A crítica aos institutos franceses nem deveria ser tão incisiva, já que boa parte das empresas captou a espiral crescente de Fillon ao longo dos últimos 10 dias de campanha, assim como a queda do ex-presidente Nicolas Sarkozy. Além disso, o ineditismo da primária de direita na França, a adesão em massa de eleitores – mais de 4,3 milhões foram às urnas – e até a participação de franceses de esquerda na votação explicam em parte as falhas. Mas as variáveis desconhecidas não amenizam a violência das críticas da opinião pública e do mundo político.
“Nossas ferramentas funcionaram bem no que diz respeito à identificação da dinâmica, marcada pela queda de Juppé e o crescimento brutal de Fillon”, justificou o diretor-geral adjunto do instituto Ifop, Frédéric Dabi, em entrevista ao jornal Le Monde. “Mas nós nos deparamos com um elemento difícil de compreender: a grande fluidez do eleitorado de um candidato a outro”, diz o pesquisador, argumentando que 30% dos eleitores declararam ter decidido seu voto no último dia.
Mas, para Pascal Perrineau, cientista político, decano do Instituto de Estudos Políticos (SciencesPo) e especialista em sociologia eleitoral, há uma mudança estrutural na sociedade que ainda não foi identificada por estudiosos da política, por intelectuais e jornalistas. “Nós falamos sempre de crise de representação dos políticos, mas as elites econômicas, intelectuais e jornalísticas também não estão alinhadas com a sociedade”, adverte. “Os mediadores que nós somos devem fazer sua autocrítica. É preciso parar de repetir em círculos sempre as mesmas coisas, dentro de um pequeno mundo isolado. É preciso ser sensível aos sinais discretos que a sociedade nos endereça.”
A crise de confiança nos institutos de pesquisas é tão grave que diretores de seis instituições – Ipsos, Ifop, BVA Harris Interactive, Elabe e Kantar Public – publicaram há 10 dias um artigo no jornal Le Monde denunciando seus detratores, que os acusam de manipular a opinião pública. Segundo o texto assinado conjuntamente, o momento atual é marcado pela “emergência de uma desconfiança sistemática e militante contra as pesquisas”. (Andrei Netto, correspondente) As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.