Viu, diante de si, um amor de quase 13 anos desandar. Desaguar num oceano de incertezas sobre o futuro, noites solitárias e inquietações sobre como recomeçar. “É amor mas não dá mais”, canta Bruno Souto, vocalista da banda Volver, em Amor Demais, a segunda música do seu também segundo disco solo, Forte, que ganha lançamento digital pela Deck. Ali, sozinho artisticamente mais uma vez, ele se estabelece esteticamente entre o pop e o rock, entre canções ora otimistas, ora pessimistas – às vezes, ambos se dividem em versos da mesma música.
“O fim de um relacionamento longo não acontece de uma noite para a outra”, explica o pernambucano de 38 anos, que vive em São Paulo. Assim como a temática de Forte, que passa pela experiência pessoal, nada foi planejado. Depois de Estado de Nuvem, primeiro disco solo dele, de 2013, quem encontrasse Souto pela noite paulistana poderia ouvir de sua boca os planos para um segundo álbum solo vindo em breve – a Volver, banda pernambucana na qual ele é o vocalista e lançou três discos, estava e ainda está em estado de inanição.
Estado de Nuvem saiu e foi consagrado. Entrou nas listas mais importantes como um dos melhores discos daquele ano e colocou a carreira solo de Souto como algo a se prestar atenção. Sem o Volver, ele se permitia experimentar novos sons e roupagens. A liberdade estética lhe fez muito bem.
“Com Estado de Nuvem, eu percebi que estreei bem”, ele avalia. “Ao mesmo tempo, ao começar um novo trabalho, não gostaria de repetir. Entendo que muitos artistas seguiriam uma ideia de criar algo como Estado de Nuvem 2 se estivessem no meu lugar. Sempre quis que um disco não repetisse o anterior. Mesmo que o anterior fosse elogiado, a ideia nunca foi ficar olhando para o retrovisor e enxergar o Estado de Nuvem. Nunca fiz isso com a Volver. Não queria fazer isso no meu disco solo”, conta.
Souto preferiu começar a erguer Forte quando estivesse próximo da data de entrar no estúdio – ele se enfurnou no Cambuci Roots, em São Paulo, entre setembro e dezembro do ano passado. As músicas que estão no disco, 9 no total, nasceram em um período de quatro meses antes. “Depois de Estado de Nuvem, passei por um período no qual não queria gravar”, ele conta. “Esperava para ter uma ideia do período em que estaria no estúdio, justamente porque queria captar essa efervescência. Enquanto isso, fui absorvendo experiências, sonoridades, e só fui colocar tudo no papel nos meses antes de começar a gravar.”
A separação pela qual Souto passou justamente no período em que começou a compor escorre em seus versos, até naqueles nos quais ele busca soar solar – o que é natural. “Ao mesmo tempo, não queria que fosse um disco de separação. Que fosse um clássico clichê”, ele avalia. “Naquele mesmo período, imaginava fazer um álbum mais pop, algo que fosse mais para cima. Passei a conviver com essa dúvida.” Forte, o resultado dessas inquietações, é as duas coisas. “Entre largar uma ideia em detrimento da outra, preferi unir as duas coisas.”
Esteticamente, Souto faz experiências que passam por Elvis Costello e até beiram a soul music, tudo enquadrado no que ele gosta de chamar de “pop adulto”. “Até a disco music entrou, aqui e ali”, ele revela. Madrugada, por exemplo, ele canta a saudade em falsete. “É um disco que fala sobre um processo. De um rompimento, sim”, ele diz. “Mas também mostra a reconstrução depois disso.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.