Mundo das Palavras

Cabeças cortadas

 A fonte de informação possui a credibilidade de quem já obteve com suas pesquisas os mais importantes prêmios dados no Brasil a jornalistas – Esso, Jabuti, Vladimir Herzog, Folha. Lucas Figueiredo, um mineiro de 42 anos de idade, trara sempre de temas que pessoas muito poderosas querem ocultar. Em 2000, depois de quatro anos de investigações, ele publicou o livro “Morcegos Negros” sobre os negócios escusos do ex-tesoureiro do presidente Fernando Collor, Paulo César Farias. Negócios que renderam um bilhão de dólares.


Em 2005, Lucas espantou seus colegas jornalistas com a amplidão e a profundidade do livro “Ministério do Silêncio”, sobre os 78 anos da história do serviço secreto do Brasil. Logo, no ano seguinte, o jornalista desvendou, no livro “O operador”, o mecanismo de falcatruas instalado dentro do PT e do PSDB pelo contador Marcos Valério Fernandes de Souza. E, em 2009, em “Olho por olho”, revelou a existência de “Orvil”, um livro de apenas 15 cópias, no qual as Forças Armadas admitem crimes cometidos durante a Ditadura Militar.  


Agora, Lucas acaba de divulgar uma descoberta impressionante, através da Revista Gentlemen´s Quarterly Brasil – GC Brasil -, recém-lançada. Na reportagem “Os segredo dos índios Aikewara”, ele mostra como estes pacíficos índios foram transformados por militares brasileiros em “máquinas de caçar, matar e cortar cabeças de homens e mulheres”, durante a repressão à Guerrilha do Araguaia. Para escrever esta reportagem, Lucas teve de, durante 4 meses, se movimentar,, dentro da selva amazônica, numa área separada quase cem quilometros  de Marabá, no Pará.


Nela, está instalada a Reserva Suruí Sororó, onde vivem os aikewaras. Ali, Lucas pôde sentir a tensão e o mal-estar que, ainda hoje, provocam na tribo qualquer menção àqueles fatos ocorridos no início dos anos de 1970. Com paciência, coragem e dedicação, contudo, ele conseguiu juntar as peças do quadro montado, num lugar que, como poucos, no país, é tão indicado “para guardar um segredo que ali foi enterrado”, de acordo com a sua reportagem.


Os militares eram 45 vezes mais numerosos que os guerrilheiros, porém, não sabiam se movimentar na selva. Para que a tribo fizesse para eles, a localização e o extermínio dos guerrilheiros – contou o índio Tawé para Lucas,  ainda com exaltação -, os militares invadiram a aldeia, “amarraram o índio bateram muito, apontaram metralhadora, estrupraram mulher de indio”.


            Este texto de Lucas Figueiredo, junto com seus livros, se situam na contramão da produção do conteúdo, superficial e irrelevante, obtido nas Redações com uso de telefone, que ocupa grande parte do espaço do Jornalismo Impresso no Brasil. Ele ajudam a reinstaurar,  no nosso Jornalismo, o espaço árido, ingrato, arriscado – mas belo e nobre -, dos trabalhos de investigação,. Como os que, há cerca de 40 anos, fizeram da Revista Realidade o ponto mais alto da História da Reportagem Impressa do Brasil.


Oswaldo Coimbra é jornalista e pós-doutor em Jornalismo pela ECA/USP


                    

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