A redução da renda disponível e a queda na confiança do consumidor devem afetar nos próximos anos vendas de lazer e vestuário no Brasil, mas a maior reversão nas expectativas acontece no comércio de itens de tecnologia. Estudo da empresa de pesquisa Mintel aponta queda nas projeções para esse setor, que até aqui vinha crescendo diante do aumento de penetração de tablets e celulares.
O estudo projeta o cenário para as vendas de bens de consumo até 2019. A categoria Tecnologia e Comunicação, que até o último ano ainda figurava entre as de maior potencial de crescimento, agora aparece dentre as piores perspectivas. Depois de o setor crescer 111% entre 2009 a 2014, a previsão é de desacelerar para 22% de crescimento no acumulado dos próximos anos até 2019. No ano passado, a projeção era bem maior, de aumento de 84% até 2018.
O desaquecimento já afeta 2015. De acordo com outro levantamento da Mintel, 47% dos brasileiros dizem que reduziram as compras de dispositivos eletrônicos nos 12 meses anteriores a abril deste ano.
“Na medida em que renda começou a ficar mais pressionada, os consumidores começaram a cortar mais esses gastos”, comenta Renata Moura, analista sênior em pesquisa de consumo. Fatores como a desvalorização da moeda brasileira, que torna as importações mais caras, e as taxas de juros mais altas também são apontados pela Mintel como responsáveis por essa desaceleração no segmento.
Gastos com lazer e com roupas também tendem a ser evitados pelas famílias brasileiras nos próximos anos, de acordo com o estudo. No último ano, 40% dos brasileiros já reduziram suas compras nestes setores e devem continuar nessa trajetória.
Desde 2009, lazer e entretenimento tiveram aumento de 41%, mas nos próximos cinco anos a alta será de apenas 16%, prevê a pesquisa. Já as vendas de roupas e assessórios vinham crescendo a uma média anual de 7% desde 2011, mas projeção caiu para 5%.
Ano difícil
A pesquisa revela uma desaceleração geral do consumo no Brasil nos próximos cinco anos na comparação com os últimos cinco. A previsão é de que o total de gastos tenha um crescimento anual de 7% até 2019 ante uma média de 11% ao ano entre 2009 e 2014.
Em 2019, a expectativa é de que o total de gastos dos brasileiros ultrapasse R$ 4 trilhões ante R$ 3,2 trilhões em 2014. Até lá, porém, o crescimento dos gastos deve ser mais significativo em itens básicos como alimentação em casa, transporte e finanças pessoais.
Renata considera que as projeções ainda não levam em conta o impacto total de medidas do ajuste fiscal que estão em andamento. Para 2015, há a perspectiva de um ritmo de crescimento menor do que a média anual projetada, mas a analista trabalha com um cenário de recuperação nos anos seguintes.