Eles são bonitos, educados, encantadores. São verdadeiros pets. No entanto, são responsáveis por ações de combate ao crime e à violência, de forma eficaz. Os cães da Polícia Rodoviária Federal (PRF), da Guarda Civil Municipal (GCM) e da Polícia Militar (PM) fazem uma segurança animal.
Treinados desde a infância, os cães são exemplo de obediência e levam o trabalho a sério quando o quesito é se divertir. "Os cães treinados, para faro ou para guarda, encaram o momento do trabalho como uma brincadeira, uma vez que seu treinamento está associado aos brinquedos favoritos dos cachorros", explica o Comandante Nunes, responsável pelo canil da GCM.
"O tempo de treinamentos vai de um ano e meio a dois anos para que os cães comecem a atuar em operações de busca e apreensão de entorpecentes, além de patrulhamentos e segurança", conta o Capitão Luna, Comandante da 3ª Cia Cail do 4º Batalhão de Choque da PM, que atende Guarulhos. As raças mais utilizadas são pastor alemão capa preta, pastor alemão preto, pastor belga malinois, labrador, rottweiler, além do doberman.
Para estas duas últimas raças, o treinamento é para guarda e proteção, por conta de suas características físicas e comportamentais. Já os labradores são utilizados especificamente como cães de faro, em operações para identificação de entorpecentes e na busca por pessoas desaparecidas.
Os pastores alemães, comumente, são treinados para dupla função, ou seja, podem ser cães de faro e de guarda e proteção. Entretanto, dentre as raças de pastores, o belga malinois tem perfil mais adaptável para a função de guarda.
Lealdade – Os pets dos canis destas corporações tem uma característica em comum com os domésticos, a lealdade com seus guias. Tanto na GCM, quanto na PRF e na PM, cada cão tem um guia, um guarda ou policial para os quais dedicam o respeito, a obediência e as horas de brincadeira.
No caso da GCM e da PM, os guardas e policiais são adestradores profissionais, responsáveis pelo treinamento dos cães. A polícia militar capacita os PMs para a função de guia, de acordo com as doutrinas da corporação. Já na PRF, os treinadores são treinados juntamente com os cães pela instituição.
Os animais se mantêm em suas funções por aproximadamente seis anos, chegando a aposentadoria por volta dos oito ou nove anos. Nesta fase, a prioridade é que o cão seja doado ao seu condutor. "Eles tem uma ligação forte com seu guia, por isso preferimos que este tenha a posse do animal após sua aposentadoria", conta o agente da PRF Fonseca.
Faro bom pra cachorro
Em seu quarto ano de funcionamento, o canil da GCM conta com 15 cães, dos quais 10 estão em operação. Uma das moradoras, a pastor alemão Fênix, deu a luz a sete lindos filhotinhos, a primeira criação no local. É a mamãe coruja do canil.
Mas, foi a moradora Atena, uma labradora preta (foto) de três anos, que deixou os adestradores espantados com a acuidade de seu faro. Treinada desde filhote, ele adora trabalhar e pula por seu brinquedo quando termina uma operação. Há pouco tempo, em serviço no Calçadão, Atena demonstrou sua grande habilidade de farejar ao cometer uma infração: roubou o sorvete de um pedestre que se aproximou da viatura.
"O cão de faro, especificamente o labrador, não costuma ser tão disciplinado, até para que sua função não se torne um pesar para ele, que pode deixar de fazê-la com dedicação. O que a raça gosta é de diversão", explica o Comandante Neves. Este é que um faro bom pra bicho.
Meu lema é trabalho
No canil da PRF, outro labrador faz a farra. Luk, de 2 anos, parace ter o trabalho como lema, pois basta ver a viatura e seu condutor, o agente Fonseca, com a guia na mão para começar a pular e correr para seu local de transporte.
Luk foi responsável pela apreensão de 10 quilos de maconha em um ônibus na Rodovia Presidente Dutra, quando apontou para o local da drogas, em uma mala no bagageiro.
Atualmente, o canil, localizado na 1ª Delegacia da PRF de Guarulhos, tem três cães em operação, para atender às operações na rodovia Dutra do trecho de Arujá a São Paulo. Ainda este mês, o Grupo de Cães Farejadores (GOC) da PRF foi responsável por uma apreensão na Dutra, em que 25 quilos de drogas foram pegas com uma mulher grávida.
Antecessor de honra
Hoje com 92 cães em operação, o canil da PM foi fundado em 1950 e leva em sua trajetória histórias de honra. A mais marcante é a do Cabo Dick, um pastor alemão que foi deixado na porta do canil em 1953 e tem sua dedicação contada até hoje pela corporação.
Naquela década, o desaparecimento de uma criança em São Paulo deixou as autoridades em alerta. Foi Dick, já treinado, que localizou o menino, em um buraco de um metro de profundidade, somente assimilando o cheiro do travesseiro da criança. A ação rendeu a Dick o nome de cabo e uma coleira de prata, presenteada pelo Governo do Estado.
Dedicado, o cão morreu seis anos depois, em 1959, em decorrência de uma hepatite, deixando sua saga de herói, contada por todos os oficiais do canil.