Eles frequentavam seu apartamento. O motivo: o pai dele, João Araújo havia criado a Som Livre, a gravadora que vendia, com exclusividade, em todo o Brasil, as músicas divulgadas pelas novelas de grande audiência da TV Globo. Nenhum suporte para conquistar um espaço próprio no mundo dos famosos, poderia ser melhor do que aquele.
No entanto, quando quis ser cantor, Cazuza fez questão de se juntar a um grupo de jovens desconhecidos, vindos de bairros distantes da sofisticada Zona Sul carioca, onde ele morava. Juntos, gravaram, numa precária fita cassete, aquelas que seriam as primeiras músicas do futuro Barão Vermelho.
O pai de Cazuza, ao ter diante de si aquela gravação, não quis ouvi-la. E disse para quem lhe apresentou a fita – o jornalista Ezequiel Neves – que sequer admitia ver seu filho único envolvido nos negócios da Som Livre. Para o bem de ambos, acrescentou.
João Araújo, porém, depois, mudou de atitude. Ele próprio conta por que, no documentário “Barão Vermelho: por que a gente é assim”.
Assistia, ao lado de Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, a um show de Caetano Veloso. No meio do espetáculo, Caetano disse que ia mostrar uma música linda, inédita. Cantou-a. E, como o público a adorou, Caetano informou: era obra “de um jovem chamado Cazuza”. (Tratava-se de “Todo amor que houver nesta vida”). Ao ouvir aquilo, João chorou.
Como é sabido, Cazuza ficaria famoso. Mas, morreu, vítima de AIDS, no dia 7 de julho de 1990.
Duas décadas, mais tarde, Caetano lembrou dele, no seu Instagram: “Cazuza completaria 62 anos, hoje. A música ‘Todo amor que houver nessa vida’ é uma obra-prima. O Cazuza era um romântico autêntico. Isso foi o que deu à poesia dele um poder de comoção muito grande. Porque ele era, cem por cento, autêntico. E isso a gente sentia. Ele entrou na MPB com uma marca enormemente original. E seu trabalho, com o Barão, e, depois, sozinho, representa uma coisa grande, com papel importante no desenvolvimento da música popular brasileira”.
Junto a este texto, Caetano postou um vídeo no qual Cazuza, a lado dele, é entrevistado. A repórter pergunta: “Como foi sua transa musical, com Caetano Veloso?”. Cazuza diz: “Caetano me deu uma força, no começo da carreira do Barão Vermelho”.
Outros dez anos transcorreram. Poucos dias atrás, Caetano voltou a escrever sobre Cazuza, no Instagram: “Há 30 anos, Cazuza nos deixava”. Como homenagem, desta vez, postou gravação dos dois cantando “Eclipse Oculto”, em 1983.
(Ilustração: Dois anos antes de sua morte, Cazuza, no lançamento do songbook de Caetano, no Rio.)