“Moreno sempre foi um menino extraordinariamente luminoso”, escreve Caetano Veloso sobre o filho mais velho, Moreno. O amor de pai se esparrama pelas linhas recebidas por e-mail pela reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. É o amor, esse mesmo, que levou o artista a trazer seus filhos para o palco consigo, na turnê Caetano Moreno Zeca Tom Veloso. Apresentação que será transformada em DVD, CD e álbum digital.
É também esse sentimento que carrega a música Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê, a primeira parceria entre Caetano e Moreno e o mais novo clipe/single de Ofertório, disco que registrou a turnê da família Veloso, gravado em outubro de 2017, no Theatro Net São Paulo. O vídeo capta a dinâmica entre Caê e seus filhos no palco. Zeca toca baixo, em silêncio. Tom, ao violão, faz os backing vocals e os gritos agudos de “Ilê Aiyê”, entre os versos. Moreno batuca o pandeiro e Caetano penteia as cordas do violão – juntos, alternam-se entre as estrofes ao microfone. “É o carinho mais profundo que posso imaginar fazer ao carnaval da Bahia, essa entidade que tem tanto valor para nós”, diz.
Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê leva Caetano pelas memórias afetivas ao lado do primogênito. Na época da composição da música, gravada originalmente para o disco Cores, Nomes, de 1982, Caetano vivia em um apartamento no Rio de Janeiro – “três andares abaixo de João Gilberto”, ele ressalta – e Moreno passava os fins de semana com o pai. O pequeno via o pai com o violão pousado nas pernas, a cantar as palavras “Ilê Aiyê”. Moreno escreveu, conta Caê, as palavras que se tornariam a primeira estrofe da canção, “como você é bonito de se ver” e “que beleza mais bonita de se ter”. “Fiquei impressionado com a adequação das palavras às frases musicais”, descreve Caetano.
Veloso explica que levava o primogênito ao carnaval de rua de Salvador com frequência. “Há uma foto em que ele está no meu colo na Praça Castro Alves, tranquilo no meio da fuzarca”, conta. Em 1981, antes de compor a canção, Caetano levou Moreno a um ensaio do Ilê Aiyê, mas ele, “pequeno, se sentiu perdido entre as pernas de tanta gente”. Quando ajudou o pai com a composição de Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê, Caetano se surpreendeu com a reação do filho. “Ué, você não tinha gostado do ensaio do Ilê!”, disse o pai. Moreno respondeu como adulto: “Não precisa eu gostar: basta que as palavras deem certo com a música”, disse, segundo Caê. “Eu disse, rindo, que ele era um formalista.” E o amor esparrama.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.