Nos últimos dois anos, os fãs de Arnaldo Baptista foram brindados com praticamente todos os discos do músico relançados – com direito a áudios remasterizados e materiais raros. E na ordem cronológica. Primeiro, em 2014, foi lançada a caixa que compila a obra de sua cultuada banda, Os Mutantes, na qual fez história ao lado do irmão Sérgio Dias e de Rita Lee. O box reúne cinco álbuns, de 1968 a 72, além de Tecnicolor, gravado em Paris em 70, mas que chegou ao mercado 30 anos depois, e a coletânea Mande Um Abraço Pra Velha.
Agora, parte da carreira solo de Arnaldo é revisitada em um box com cinco CDs: Loki? (1974), Singin Alone (1982) e Let It Bed (2004), mais dois discos com a banda Patrulha do Espaço, Elo Perdido + (de 1977, mas só lançado em 88) e Faremos Uma Noitada Excelente (de 1978 e lançado em 88).
Seus outros álbuns solos, Disco Voador: Paz (87) e Shining Alone: Ao Vivo 1981, não foram incluídos no pacote. Segundo a produção do músico, a decisão teve a ver com custos – deixar a caixa viável para os fãs, em sua maioria jovens – e com qualidade de gravação, já que foram registrados em condições precárias.
Arnaldo gosta da ideia de ver sua obra disponível dessa forma. “A pessoa pode acompanhar a minha evolução, como ser humano, artista, nesse sentido de amores, paixões, inspirações. Faz um panorama desde o começo até agora”, diz ele, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, por telefone, de sua casa em Juiz de Fora (MG).
Gravado logo depois da saída do músico de Os Mutantes, o seminal álbum Loki? completou 40 anos em 2014. Com o disco, Arnaldo queria se distanciar “em composição e música” de sua banda – e o fez por meio de experimentações. Tom Zé escreveu recentemente sobre isso: “É só piano, bateria e voz? Parecia uma dúzia de assassinos. Música! Nunca mais. Nunca mais faço uma”. Não há guitarra. Mas há bossa nova, samba, MPB, funk…
Juntaram-se ao time os ex-Mutantes Dinho Leme e Liminha. Em estúdio, os dois estranharam os rumos sonoros do álbum. “O Liminha até ficou bravo comigo: Não está muito samba?; Está igual ao Sérgio Mendes; Tem de fazer de novo. E eu: Não. Ficou, ficou. Vamos ver o que sai. Foi legal por isso.” O disco traz uma participação curiosa: a de Rita Lee – de quem Arnaldo havia tido uma dolorosa separação – nos backing vocals de Não Estou Nem Aí e Vou Me Afundar na Lingerie. “Não me lembro totalmente de como isso aconteceu, mas acho que fui a uma gravação com a Rita, e sugeri que ela fizesse o vocal e ela entrou no estúdio. Foi só assim, não planejei nada, aconteceu”, conta ele.
Fora de catálogo desde 1988, os álbuns Elo Perdido e Faremos Uma Noitada Excelente mostram Arnaldo à frente de sua outra banda, a Patrulha do Espaço. Vale destacar que Elo Perdido + traz ainda canções que não entraram no LP original por falta de espaço. São cinco faixas bônus organizadas na seção Elo Mais Que Perdido, como Singin Again, Sanguinho Novo, entre outras. Arnaldo ficou no grupo em 1977 e 78, período que rendeu esses dois discos – o primeiro de estúdio, que inclui a ótima Sunshine, e o segundo ao vivo. “A Patrulha era mais ou menos caótica no sentido de organização. Estava sem constância nas apresentações, nos ensaios”, lembra ele. “Mas a gente ia levando, tocando, fazendo música pauleira, e o resultado foi isso que a gente gravou e ficou meio escondido. Agora apareceu. Fico contente.”
De volta à carreira solo, Arnaldo Baptista lançou, em 82, o álbum Singin Alone, no formato que ele chama de “one man band”. Pela primeira vez, ele assume todos os instrumentos: guitarra, bateria, contrabaixo, piano, órgão, pandeiro, além do vocal. “Ali entro de novo numa aventura em que não sabia se ia ser capaz de fazer com todos aqueles instrumentos, mas eu fiz o possível.” Em Let It Bed, com produção de John Ulhoa, do Pato Fu, ele retorna ao formato banda de um homem só, no comando de todos os instrumentos. Foi o mais recente trabalho solo de Arnaldo. Há anos, ele se dedica a um novo disco, Esphera. “Estou com quase dez faixas gravadas, estou no finalzinho dele, já pintei a capa. Previsão (de lançamento) ainda não tenho, mas, assim que der, sai.”
Este ano, completa uma década da retomada de Os Mutantes. Em 2006, Arnaldo e Sérgio Dias voltaram à estrada com a banda em shows memoráveis, com Zélia Duncan nos vocais. Arnaldo e Zélia deixaram a banda em 2007. Sérgio continua com o grupo sem eles. Desde sua saída, Arnaldo, hoje com 67 anos, diz que nunca mais falou com o irmão. O músico acha que a banda tem relevância sem ele nem Rita…? “Posso parecer suspeito de dizer isso, mas eu não gosto muito da ideia.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.