Das arquibancadas vem o canto personalizado e que ecoa por todo o Morumbi: "Ô, ô, ô, toca no Calleri que é gol!". Se a primeira passagem de Jonathan Calleri pelo São Paulo, que durou apenas seis meses em 2016, representava uma amostra muito pequena para colocá-lo entre os grandes jogadores estrangeiros da história tricolor, seu retorno ao clube tem colaborado para que o centroavante atinja esse status.
Contratado no ano passado, o argentino vive ótimo ano de 2022. Com 16 gols, oito deles no Campeonato Brasileiro (é o artilheiro da competição), já igualou a marca alcançada seis anos atrás. Com praticamente todo o Nacional pela frente, além das disputas da Copa do Brasil e do mata-mata da Sul-Americana, terá a oportunidade de ampliar a estatística goleadora e registrar sua melhor temporada com a camisa são-paulina.
Em um clube tão associado aos ídolos uruguaios, como Pablo Forlán, Pedro Rocha, Darío Pereyra e Diego Lugano, Calleri recupera o que um dia foi uma relação especial do São Paulo com os jogadores argentinos, mas que há muito tempo não é vivida. Na década de 1940, Antonio Sastre chegou à equipe para ser uma espécie de coadjuvante de luxo de Leônidas da Silva. O atacante, ícone do Independiente e campeão sul-americano com a seleção de seu país, já era naquela época um jogador moderno, capaz de desempenhar mais de uma função, seja como meio-campista ou como atacante.
Contratado em 1943, Sastre sagrou-se campeão paulista logo em seu primeiro ano. Depois, conquistaria também os Estaduais de 1945 e 1946, no time que ficou conhecido como Rolo Compressor.
Nos anos 1950, outros dois argentinos desembarcaram em São Paulo para escrever seus nomes na história tricolor. Principalmente o goleiro José Poy, que jogou de 1949 a 1962 pelo clube, foi tricampeão paulista como atleta (1949, 1953 e 1957) e, como treinador, levou o time à taça do Estadual em 1975.
Companheiro de Poy entre 1952 e 1954, o meia-atacante Gustavo Albella, que veio do Banfield, foi determinante para que o time vencesse o Campeonato Paulista de 1953, anotando 15 gols na campanha. A história de sucesso de argentinos no Morumbi, porém, ficou no passado. Ainda que em 2021 o São Paulo tenha sido campeão com Hernán Crespo no comando, encerrando uma fila de nove anos sem títulos, a experiência durou pouco (somente oito meses).
Seu compatriota e meio-campista Martín Benítez, por exemplo, não conseguiu dar sequência à boa reta final de Estadual que havia feito e acabou entrando para a lista de tentativas frustradas com atletas provenientes do país vizinho.
Nas últimas duas décadas, esses fracassos só ajudaram a reforçar a imagem do São Paulo como "o clube dos uruguaios". De Ameli a Adrián González, de Cañete a Centurión, passando por Clemente Rodríguez, Julio Buffarini e Andrés Chávez, nenhum argentino conseguiu emplacar uma boa passagem pelo Morumbi.
Nem mesmo Lucas Pratto, apesar dos 14 gols em 2017, importantes para que o time não fosse rebaixado no Brasileirão daquele ano, foi capaz de criar uma identificação com o torcedor. Algo que Jonathan Calleri não só alcançou logo em sua primeira passagem, mas que tem intensificado desde o seu retorno. "A torcida do São Paulo gosta muito dele porque ele tem o perfil que a torcida admira. Um cara que não desiste nunca, briga o tempo todo. Gosta da camisa. E tem a coisa mais importante que existe no futebol, que é marcar gols, né", disse o coordenador de futebol do clube, Muricy Ramalho, ao Estadão.
Artilheiro e adorado pelos são-paulinos, Calleri ainda persegue algumas marcas importantes atingidas pelos grandes argentinos do passado tricolor.
Autor de oito no Nacional, ele está a oito de igualar Gustavo Albella como o argentino com mais gols em um único campeonato – o ex-jogador do Banfield registrou 16 no Paulista de 1953, que terminou com o título. Também pertence a Albella a liderança no ranking de argentinos com mais gols pelo São Paulo em uma única temporada: 29 no ano de 1952. Nenhum outro estrangeiro, inclusive, conseguiu superar esta última marca.
Mais importante do que os recordes e os números, contudo, é o fato de que tanto Sastre como Poy e Albella foram campeões pelo clube. O que, no caso de Jonathan Calleri, ainda é uma conta pendente. "Para entrar nesse nível, não tem a ver com técnica ou qualidade, mas sim ganhar títulos. Para deixar a sua marca. Aconteceu com os outros, com os uruguaios, como o Pedro Rocha, o Lugano, e vai acontecer com o Calleri no momento em que ele conseguir ser campeão", completou Muricy.
Os 5 maiores artilheiros argentinos do São Paulo
1. Antonio Sastre: 56
2. Gustavo Albella: 46
3. Jonathan Calleri: 37
4. Elmo Bóvio: 22
5. Juan José Negri: 18
Os 5 maiores artilheiros estrangeiros do São Paulo
1. Pedro Rocha (Uruguai): 119
2. Antonio Sastre: 56
3. Gustavo Albella: 46
4. Rubén Barrios (Paraguai): 40
5. Jonathan Calleri: 37*
*Empatado com o uruguaio Darío Pereyra e o colombiano Aristizábal