O calor será o componente mais preocupante para os 30 mil atletas que neste sábado vão disputar a 92.ª edição da Corrida de São Silvestre, nas ruas de São Paulo. A temperatura com máxima prevista para 33ºC faz a prova deste ano ser a mais quente desde a mudança da largada para o horário da manhã e mexe com as apostas nos possíveis favoritos. Para os brasileiros, o verão é considerado um aliado.
O clima quente dos últimos dias surpreendeu os africanos, habituais vencedores da prova. A maioria deles desembarcou em São Paulo na madrugada desta quinta-feira, como a etíope Ymer Wude Ayalew, tricampeã da corrida e assustada com o calor. “Gosto bastante da cidade, mas realmente está bem mais quente do que nas outras vezes que estive aqui”, admitiu a atleta de 29 anos, vencedora das duas últimas edições.
Etíopes e quenianos são as nacionalidades com mais vitórias na corrida nos últimos 20 anos. Os dois países africanos têm em comum condições geográficas que favorecem a formação de talentos no atletismo, como locais de altitude, onde a maioria das revelações começa a treinar no ar rarefeito e em terrenos acidentados.
Por essas condições, o brasileiro Giovane dos Santos aposta que o calor pode ser favorável, pois os treinos dos africanos são em locais mais frescos. “Estou adorando a temperatura, porque sei como os quenianos têm dificuldade para correr no calor. Isso pode me ajudar bastante, principalmente na subida final”, afirmou o atleta mineiro, quinto colocado no passado, em referência ao trecho final da prova, a avenida Brigadeiro Luís Antônio.
O pentacampeão da Volta da Pampulha, em Belo Horizonte, afirmou que pretende impor um ritmo forte logo no começo para abrir vantagem. “Os africanos vão ter que respeitar o meu ritmo. Eu vou procurar não entrar na estratégia deles de corrida”, disse.
A organização da prova garante estar preparada para dar aos competidores condições de enfrentar o calor. São cinco postos de apoio ao longo dos 15 km de percurso, local para hidratação e atendimentos médicos para os 30 mil inscritos.
São 480 mil garrafas de água colocadas à disposição dos competidores, uma média de 16 para cada um dos corredores, seja do pelotão de elite ou amador. A quantidade é a mesma de anos anteriores e, segundo os organizadores, é suficiente para suprir a demanda por reidratação de todos os participantes.
Será a quinta edição da São Silvestre com largada pela manhã. As mulheres partem às 8h40 e os homens, às 9h. Nas provas anteriores neste horário matutino a temperatura estava menor, como os 26ºC do ano passado. Entre 1989 e 2011 a prova teve início à tarde e, antes disso, começava depois das 23h.
O principal nome em 2016 será a queniana Jemima Sumgong, de 32 anos. A atleta foi medalhista de ouro nos Jogos do Rio e neste ano ganhou também a Maratona de Londres, em abril, mesmo após cair durante o percurso. É a primeira participação dela na São Silvestre.
ESTRATÉGIA – Se o calor é aliado para os brasileiros, também obrigou a mexer na preparação. Os corredores passaram a ingerir mais líquidos para aguentarem os 15 km sem perderem o rendimento pelo desgaste.
A principal atleta brasileira, a paranaense Joziane Cardoso, concilia bebidas como água, isotônico e água de coco à confiança por ter treinado no calor. “Sou de Nova Santa Bárbara, no Norte do Paraná, e lá tem feito um calor muito forte. Treinei bastante, estou adaptada e acredito que a temperatura não será problema para mim”, disse.
Os atletas afirmam que o calor vai fazer com que os tempos de prova sejam maiores. “Será necessário diminuir o ritmo para poupar energia. O tempo de corrida deve ser mais longo por causa disso”, afirmou o queniano Willian Kibor, que também correu no ano passado. Em 2015 a prova masculina foi vencida em 44 minutos. Já a das mulheres, demorou 54 minutos.