Opinião

Câmara elegerá presidente a serviço da Prefeitura

A Câmara Municipal de Guarulhos elege, nesta quarta-feira, o novo presidente que será responsável pela Casa no biênio 2011/2012, em substituição a Alan Neto (PSC). É certo – mesmo antes de os votos irem para a urna (na verdade, ao painel eletrônico) – que o empresário Eduardo Pires, mais conhecido como Soltur, do Partido Verde, será o vencedor de uma disputa com cartas marcadas. Até o momento da votação, há a possibilidade de que o jogo político crie uma certa expectativa em relação à composição dos demais cargos da Mesa Diretora, já que o nome do presidente está mais do que certo.


 


Tanto é assim que os vereadores, ouvidos pela reportagem do Guarulhos Hoje, não enxergam nada de errado no fato de Soltur, por meio da empresa Transpérola, registrada no nome da mulher dele, manter contratos que superam os R$ 12,5 milhões com a Prefeitura ao longo dos anos de 2009 e 2010. Sim, oficialmente não há nada de ilegal em familiares de um parlamentar serem fornecedores da administração pública, ainda mais se as licitações realizadas para essas contratações não terem sido dirigidas.


 


Porém, a imoralidade e a falta de ética são flagrantes. Eduardo Soltur assumirá a cadeira de presidente, com a anuência de seus pares, com a ficha manchada. Não terá condições de agir com imparcialidade em qualquer ato que se referir às contratações do Executivo, seja com sua ou com outras empresas.


 


Imagine se, por acaso, chega à Casa uma denúncia de que sua empresa, de alguma forma, foi beneficiada numa negociação com o poder público. Como ele agirá? Alguém acredita que Soltur permitirá a abertura de um processo de investigação contra ele mesmo? Óbvio que não. E se não tem condições de agir com independência em um caso que o envolva, não poderá  ser juiz em outras questões. Estará nas mãos do Executivo. Será refém durante os dois anos de mandato. Afinal, se vier a contrariar os interesses do Bom Clima, pode não ter os contratos de sua empresa renovados. Isto é fato.


 


Chama a atenção também o corporativismo que toma conta da Câmara Municipal e um certo atestado de incompetência dos demais vereadores. Afinal, todos se curvaram, com certa facilidade, à determinação de Soltur de se tornar presidente. Será que nenhum outro teria condições de angariar apoio para contrapor a relação, quase que incestuosa, que se desenha? Ou será que os argumentos apresentados (ele não economizou nisso) não poderiam ser superados?


 


Nem mesmo a base governista, que se convenceu de que Soltur é o melhor aliado que pode ter, investiu em um candidato próprio. Tanto que o prefeito Sebastião Almeida (PT) encabeçou negociação para fazer de Edmilson Souza,  o nome do PT para presidente, o primeiro vice, deixando completamente de fora do comando vereadores de oposição e do bloco de centro – frise-se que nem esses alijados da composição da Mesa se posicionaram contrariamente a Soltur como presidente. Desta forma tudo fica tudo em casa.  Do jeito que o Executivo gosta.

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