Variedades

Camila Morgado se destaca em lote de filmes independentes

Camila Morgado vai acompanhar com especial atenção a 75ª edição do Festival de Cinema de Veneza, que abre nesta quarta-feira, 29. Não apenas pela participação do filme Domingo, de Fellipe Barbosa e Clara Linhart, do qual ela é protagonista e é um dos destaques da Venice Days, a face independente da mostra italiana – a projeção do longa em um espaço privilegiado confirma como acertada a decisão tomada pela atriz, há alguns anos, de recusar papéis da mulher forte e se entregar a personagens insólitos, despudorados, enfim, um salto no escuro que confirme sua versatilidade.

“A televisão é um excelente veículo, mas, para o artista, ela ensina a prática do liga e desliga”, comenta Camila, referindo-se ao raro polimento que os atores conseguem dar à sua atuação em trabalhos para a telinha, normalmente realizados com pressa. Ela, por ora, participa apenas da novela juvenil Malhação como a professora Gabriela, papel que já lhe rendeu um tremendo sucesso pelo carinho com que ela trata os alunos.

Mesmo assim, grava cerca de 20 cenas por semana. “A vantagem é ser obrigada a reagir espontaneamente diante da câmera”, conta Camila, mais preocupado com projetos de cinema. Em Domingo, ela vive uma estrangeira cuja família se reúne em sua casa, em Pelotas, no Rio Grande do Sul, no primeiro dia de 2003, quando Lula toma posse como presidente. “É um clã decadente e minha personagem é uma mulher livre, despudorada, que incomoda os parentes.”

De fato, como já afirmou o diretor Barbosa, o filme é sobre, basicamente, o medo da revolução do proletariado, do comunismo no Brasil a partir dessa família aristocrata, mas decadente, que se reúne para tentar enterrar esse temor. “Trata diretamente da relação entre patrão e empregados”, observa Camila, que guarda boas lembranças da convivência com Ittala Nandi, veterana atriz que interpreta a matriarca da família.

Experiência mais radical a atriz enfrentou ao rodar Vergel, da argentina Kris Niklison. Filmado em um apartamento de 37 m² (a equipe se apertava nos raros cômodos) em Buenos Aires, Camila vive uma mulher cujo marido morre inesperadamente durante uma viagem a passeio e ela é obrigada a enfrentar a burocracia argentina para liberar o corpo e voltar ao Brasil. “Quando li o roteiro, já sabia como seria essa mulher”, explica a atriz, cujo trabalho é mais psicológico que físico.

Afinal, sua interpretação é minimalista para mostrar o tour de force de uma mulher enlutada, que é tomada por todo tipo de pensamento, enquanto se vê trancafiada em um apartamento que faz lembrar uma floresta pela quantidade de plantas (daí o título, que quer dizer algo como “pomar”).

Seu único contato exterior é via uma enigmática vizinha, interpretada pela argentina Maricel Álvarez. “Desenvolvemos, Maricel e eu, uma grande amizade, trocando ideias pelo WhatsApp”, conta Camila, cuja proximidade foi necessária para realizar cenas de alto conteúdo erótico, como uma relação entre elas, além de outra com masturbação. “Não me incomodei em fazer porque entendi como parte do processo íntimo da personagem, atravessada pela dor da perda”, comenta. “Não é uma exposição gratuita, é realmente um retrato fiel de alguém que passa por aquela situação de dor.”

Romper os limites da interpretação a favor da arte não é uma novidade na carreira de Camila. Basta observar outra de suas surpreendentes atuações, agora em O Animal Cordial, de Gabriela Amaral Almeida, já em cartaz em São Paulo. Ali, seu potencial dramático é levado a um extremo para garantir o tom de terror.

Mais enigmático é o papel de Camila em Albatroz, longa de Daniel Augusto, com roteiro de Braulio Mantovani, previsto para março de 2019. O filme conta a história do fotógrafo Simão (Alexandre Nero) que, durante uma viagem com a amante a Jerusalém, testemunha um atentado malsucedido. Com as fotos do fato, ele se torna internacionalmente conhecido, mas sofre críticas por ter decidido fotografar em vez de ajudar as vítimas. “Minha personagem, Rene, é uma mulher misteriosa, pois não se sabe se é uma espiã ou uma atriz – sua meta é iludir Simão”, explica Camila, habituada a desafios.

Sua carreira começou no teatro, trabalhando com diretores notáveis como Gerald Thomas e Antunes Filho. Na TV, estreou em 2003, na minissérie A Casa das Sete Mulheres, sucesso de crítica e público. E, no cinema, impressionou como a protagonista de Olga, de Jayme Monjardim. Não satisfeita em atuar, Camila também se exercita como videoartista.

Inicialmente um projeto pessoal, ela cedeu ao pedido do curador Batman Zavareze para participar do Riofestiv.al, primeira mostra inteiramente realizada no ambiente virtual. É dela o trabalho Privilégio da Dor, uma coreografia para a musculatura facial. “Fiz uma brincadeira com o excesso de selfies”, explica ela.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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