A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) tenta se desvincular do ex-deputado Roberto Jefferson, que atacou policiais federais neste domingo, 23, com uma granada. A avaliação interna do QG bolsonarista, de acordo com relato feito ao Broadcast Político, é de que o episódio pode atrapalhar a busca por votos de eleitores indecisos, a uma semana do segundo turno. A orientação foi para que o chefe do Executivo se manifestasse o mais rápido possível. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, também agiu para negar que Jefferson fosse um dos articuladores da campanha de Bolsonaro.
Diversos opositores do presidente passaram a associá-lo a Jefferson nas redes sociais, mas o que a campanha mais teme é o poder de disseminação de informações do deputado André Janones (Avante-MG), aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que disputa com Bolsonaro o Palácio do Planalto. Não à toa, Faria citou o nome do parlamentar durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais com o presidente.
A nova polêmica vem depois de a campanha ter de agir para conter duas crises: a da proposta da equipe econômica de desindexar da inflação o salário mínimo e as aposentadorias e a da declaração do presidente sobre ter "pintado um clima" com meninas venezuelanas. Na visão da campanha, a associação com o episódio de Jefferson pode gerar um novo desgaste por se tratar de uma ação contra policiais, que fazem parte da base eleitoral do presidente.
"Como a gente vive desmentindo fake news, presidente, diariamente, é de meia em meia hora e, agora, mais uma vez, o Janones mente e diz que o Roberto Jefferson era um dos coordenadores da campanha do presidente Bolsonaro. Nunca foi coordenador, até porque ele era pré-candidato à Presidência, teve a candidatura indeferida", disse Faria, na live. Jefferson foi substituído como candidato do PTB ao Planalto por Padre Kelmon, que virou uma espécie de "cabo eleitoral" de Bolsonaro, com elogios ao governo e críticas ao PT durante os debates no primeiro turno.
O chefe do Executivo chegou a afirmar que não há nenhuma foto dele ao lado de Jefferson, mas imagens dos dois juntos começaram a circular nas redes sociais. Antes de se pronunciar na transmissão ao vivo, Bolsonaro foi ao Twitter comentar o caso. O presidente manifestou repúdio aos ataques de Jefferson à ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), e ao que chamou de "ação armada" do ex-deputado contra os agentes da PF, mas também voltou a criticar a atuação da Justiça, ao repudiar "a existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do MP".
Jefferson feriu dois policiais federais na manhã de hoje. De acordo com a PF, os agentes tentavam cumprir um mandado de prisão contra o ex-deputado, que teria reagido ao jogar uma granada. A ordem foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, que citou "reiterado" desrespeito do ex-parlamentar a medidas restritivas. Jefferson cumpre prisão domiciliar.
Desde o primeiro turno, a campanha vive uma divisão interna. De um lado, o marqueteiro Duda Lima, ligado ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, tenta passar a imagem de um Bolsonaro "empático" e com perfil mais "propositivo" para tentar conquistar o voto dos indecisos. De outro, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente e responsável pelas redes sociais do pai, defende uma estratégia mais agressiva.
Em pesquisas qualitativas encomendadas pela campanha, foi identificado que Bolsonaro afasta eleitores indecisos quando adota uma postura "agressiva", apesar de mobilizar a militância. Por isso, a tentativa de mostrá-lo mais moderado. No dia 14, o candidato à reeleição chegou a pedir perdão por suas "palavras". Bolsonaro também passou a dizer que "fala palavrão, mas não é ladrão". A campanha ainda aconselhou o presidente a suavizar a retórica contra as urnas eletrônicas.
Nos últimos dias, contudo, uma série de polêmicas tem preocupado o QG bolsonarista e feito com que a campanha precise "apagar incêndios". Antes do imbróglio com Jefferson, Bolsonaro precisou agir para prometer o aumento real do salário mínimo, das aposentadorias e dos rendimentos do funcionalismo público, após vir à tona uma proposta da equipe econômica para desindexar essas despesas, ou seja, desvinculá-las da inflação.
Oposicionistas, com Janones à frente, passaram a dizer que haveria redução do salário mínimo, e a campanha começou a temer que a repercussão do caso assustasse eleitores de baixa renda. Como mostrou o Broadcast Político, aliados de Bolsonaro culparam o ministro da Economia, Paulo Guedes, pelo desgaste. O chefe da equipe econômica também precisou ir a público prometer reajustes acima da inflação.
No último dia 18, Bolsonaro teve de divulgar um vídeo no qual afirmou que suas declarações sobre meninas venezuelanas haviam sido tiradas de contexto. Ele também pediu desculpas caso suas "palavras" tivessem sido "mal entendidas" e provocado "algum constrangimento".
No dia 14, em entrevista a um podcast, Bolsonaro havia dito que durante um passeio de moto por Brasília, ao ver "meninas bonitas" de 14 e 15 anos, "pintou um clima". O presidente, então, pediu para visitar a casa onde elas viviam. Segundo o chefe do Executivo, elas estavam se arrumando para "ganhar a vida". As declarações viralizaram nas redes sociais e foram usadas pela oposição para associar Bolsonaro à pedofilia.
Horas antes do debate na TV organizado pela Band e outros veículos de comunicação, no dia 16, Moraes, que o preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), proibiu a campanha de Lula de explorar as declarações de Bolsonaro sobre as venezuelanas, o que foi recebido com alívio na campanha do candidato à reeleição.