Gustavo Endres jamais imaginou que pudesse passar seus conhecimentos de quadra no vôlei para jovens talentos, muito menos para seu próprio filho. Mas é exatamente isso que o destino lhe reservou após brilhou nas quadras como jogador. Foi campeão olímpico em Atenas-2004, prata na edição seguinte em Pequim, é bicampeão mundial e tem inúmeros títulos na carreira. Desde que se aposentou, vem se preparando para ser técnico e participou no último fim de semana da Superliga C comandando o APAV/Marítimo, de Canoas (RS). Não conseguiu o acesso neste ano, mas está lapidando jogadores jovens, incluindo seu filho Enzo, que atua na equipe.
"A minha expectativa como treinador do Apav é me autoavaliar como integrante de uma comissão técnica. A experiência tem sido gratificante", diz Gustavo. "Cada dia é um aprendizado, algo novo acontece e me deixa contente. Me sinto honrado em contribuir para melhorar a condição de cada um do time. Incrementar a performance deles é meu objetivo."
Gustavo diz que a meta da equipe é desenvolver o vôlei gaúcho, principalmente a "gurizada" da base, que termina o ensino médio e não tem tantas oportunidades. "Selecionamos estes atletas e estamos trabalhando para melhorar a técnica e a tática de cada um deles. Mostrando como funciona uma equipe profissional, um jogo de alto rendimento e um atleta", explica.
O Apav foi o primeiro campeão da Superliga B. Isso foi em 2012. Jogou alguns anos na Superliga principal, mas caiu e agora busca investimento para manter o projeto. "Em aproximadamente um mês e meio de trabalho, já conseguimos apresentar um bom trabalho. Precisamos de mais treino para brigar de igual para igual com as demais equipes", diz Gustavo.
HERDEIROS – Gaúcho de Passo Fundo e com 46 anos, Gustavo não esconde a alegria de ver os filhos na quadra. O mais velho é Erick, com quem já havia trabalhado em Canoas, em 2019, quando ainda não era treinador. O mais novo é Enzo, que está agora sob seu comando.
"Treinar meu filho caçula, e em uma equipe adulta, é uma baita experiência. Qualquer pai gostaria de ter essa experiência. Com o Erick eu ainda não era técnico, já tinha o curso nível 3, mas estava observando ainda, ajudando em quadra. Dava uns toques, ajustava algumas coisas. Com o Enzo é diferente. Eu sou o treinador dele e cobro muito, principalmente postura e comprometimento. E ele tem isso, tem muita vontade, às vezes preciso frear um pouco o ímpeto dele."
Enzo é oposto – principal atacante do time. Tem 1,96m. Aos 18 anos, participou de uma competição tendo o pai como técnico e entende muito bem a importância disso. "Ser treinado pelo meu pai é uma das maiores honras que poderia ter na vida. Além da vasta experiência que ele tem, pode passar muitas informações e dicas de sua vivência. E, sendo meu pai, temos um relacionamento bom, próximo. Ele me entende como pessoa, pois somos bem parecidos, isso faz com que ele saiba como tirar o melhor de mim", conta.
O garoto diz não sentir tanta pressão de ter o pai como técnico, como Bernardinho e Bruno, por exemplo. "Eu sei tudo que o meu pai fez pelo vôlei, o tamanho da importância dele. Então, quando estou em quadra, quem está jogando, quem está treinando, é o Enzo. O Gustavo e o Enzo são dois indivíduos diferentes. Sei que as comparações são inevitáveis, mas entro em quadra para escrever a minha própria história, fazer tudo do melhor jeito que puder."
Claro que Enzo tem seus sonhos e espera um dia ter grandes conquistas. De uma coisa ele tem certeza: terá trabalho para ter uma carreira mais vitoriosa do que a de seu pai. "Meus objetivos convergem para ir o mais longe possível. Claro que tenho vontade de superar o que ele fez, mas sei que é uma missão difícil, já que foi um atleta de muitas conquistas. É um baita desafio, mas é algo de que tenho vontade", avisa.