Estadão

Campos Neto: aperto da liquidez global pode afetar economias emergentes de forma mais severa

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira, 23, que o aperto da liquidez global, em meio aos juros mais altos pagos nos Estados Unidos, pode afetar economias emergentes de "forma mais severa".

"A barra ficou mais alta, agora tem que fazer melhor", comentou o presidente do BC, que pediu durante evento na sede do <b>Estadão </b> a aprovação no Congresso do pacote enviado pelo governo para elevar receitas, em busca da reversão do déficit das contas primárias. "O dever de casa ficou um pouco mais difícil porque a liquidez está mais apertada", reforçou Campos Neto, ao lembrar que, com a redução dos fluxos de capital em direção a emergentes, o mercado está mais exigente em relação ao ajuste das contas públicas.

Durante o evento "Reflexão sobre o cenário econômico brasileiro", organizado pelo <b>Estadão</b>, com apoio do <i>Broadcast</i> (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), em parceria com o <i>B3 Bora Investir</i>, site de notícias e conteúdo educacional produzido pela Bolsa, Campos Neto julgou que o governo tem se esforçado, lembrando da manutenção da meta de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal. "Foi feito bastante coisa."

Por outro lado, ressaltou, é importante que o Congresso aprove medidas de receita e evite projetos que representem uma elevação da trajetória da dívida pública.

<b>EUA e Europa</b>

O presidente do Banco Central observou ainda que a reversão dos estímulos fiscais concedidos na pandemia para evitar uma depressão econômica não se deu de forma sincronizada. As condições fiscais, destacou, seguem bem frouxas tanto nos Estados Unidos quanto em parte da Europa, pressionando os juros de todo o mundo.

Ele disse ter chegado à última reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), duas semanas atrás, determinado a levar a mensagem sobre o impacto dos juros altos no mundo desenvolvido sobre a liquidez global. "Cheguei ao FMI com essa mensagem na cabeça, minha fala seria sobre o fiscal no mundo desenvolvido", comentou o presidente do BC, acrescentando que vinha estudando o tema.

Após pontuar que as economias ricas vivem um momento de juros altos com uma dívida que aumentou muito na pandemia, Campos Neto lembrou que existia uma ideia de sincronização das medidas adotadas na entrada e na saída da crise sanitária, o que não se confirmou.

"Houve sincronização na entrada para evitar uma depressão econômica, mas a saída não foi tão ordenada quanto na entrada", afirmou Campos Neto.

Ele considerou que, mesmo que em momentos e ritmos diferentes, os bancos centrais subiram os juros para segurar o surto inflacionário. Mas em relação ao fim dos estímulos fiscais, o esforço foi menor e não coordenado.

Campos Neto lembrou que esperava-se que os estímulos sem precedentes dados na pandemia seriam temporários, sob medida e direcionados. "Não passamos do temporário. O temporário virou permanente. Vários programas em alguns países se estenderam para além do que a gente achava que ia acontecer", declarou o presidente do BC.

Posso ajudar?