O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, evitou nesta terça-feira, 31, prever qual será a taxa Selic final do atual ciclo de alta nos juros, mas voltou a garantir que o BC fará o necessário para trazer a inflação para a meta com os instrumentos que o BC dispõe. A afirmação foi realizada durante participação em audiência pública extraordinária na Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados.
Essa é a primeira participação presencial de Campos Neto em uma comissão do Congresso Nacional desde o início da pandemia.
O Comitê de Política Econômica (Copom) do BC sinalizou na comunicação de sua última reunião que é "provável" nova alta da Selic na próxima reunião, em junho, em ritmo menor do que o movimento feito neste mês. No começo de maio, o Copom elevou a Selic em 1,00 ponto porcentual, de 11,75% para 12,75% ao ano.
Campos Neto disse que, se o ajuste tempestivo de juros brasileiro tiver credibilidade junto ao mercado, a inflação voltará a ser controlada. "Com comunicação boa e ajuste de juro tempestivo com credibilidade, podemos controlar inflação. O que mais gera desigualdade é a inflação. Quem tem dinheiro, tem acesso a instrumentos financeiros para se proteger da inflação. O melhor instrumento de crescimento sustentável de longo prazo é ter a inflação sob controle. Tentamos trazer a inflação para a meta com o mínimo de desgaste econômico possível", afirmou.
<b>Petrobras e política de preços</b>
O presidente do Banco Central evitou comentar sobre a política de preços da Petrobras, mas alertou que diversos países estão preferindo interferir em preços de combustíveis durante o atual choque do petróleo. "O problema de interferir em preços é afetar política de investimentos de empresas", limitou-se a responder, na audiência pública extraordinária.
<b>Definição da meta de inflação</b>
Campos Neto disse quem define a meta de inflação é o Conselho Monetário Nacional (CMN), e não apenas o BC. "Entendemos que temos uma meta a cumprir, é como o mandato do BC é feito", limitou-se a comentar.
A meta de inflação para 2025 será definida na reunião do CMN de junho. Fazem parte do CMN o ministro da Economia, Paulo Guedes, o secretário especial de Tesouro e Orçamento, Esteves Colnago, e o próprio Campos Neto.
<b>Plano Safra</b>
O presidente do Banco Central disse que o BC está tentando garantir que haja recursos para o Plano Safra. "Temos conversado com os ministérios da Economia e da Agricultura para buscarmos uma solução com um volume de recursos adequado para o Plano Safra", afirmou.
Como mostrou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), a Secretaria Especial do Tesouro e Orçamento (Seto), do Ministério da Economia, bloqueou aproximadamente R$ 1,2 bilhão em despesas que serão remanejados para a subvenção de taxas de linhas do próximo Plano Safra, 2022/23, no segundo semestre, de um total de cerca de R$ 4,3 bilhões bloqueados com destino ao crédito rural e ao Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro).
Campos Neto destacou que os preços dos alimentos têm sido impactados pela alta do preço do diesel. "Temos um estoque de diesel muito baixo no mundo, chegamos a ter apenas quatro dias de diesel, para uma média de 120 dias. O diesel impacta as demais cadeias e temos visto que a parte energética da inflação tem impactado os outros setores", completou.
<b>Operações de swap</b>
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse ainda que o BC tem tido um ganho grande com as operações com swap. "Lembrando que nosso objetivo não é ter ganho ou prejuízo, mas sim estabilizar a moeda. Nossa intervenções não têm o objetivo de fazer preço, mas resolver disfuncionalidades do mercado. Mas temos atuado menos nos últimos meses", afirmou.
Devido à greve dos servidores do BC, a instituição não tem divulgado semanalmente as estatísticas referentes às suas operações cambiais e seus efeitos sobre a posição cambial líquida da autoridade financeira.