O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira, 23, que ficou surpreso com a manifestação da Abranet, a associação que representa as maquininhas independentes, após a reunião realizada na segunda-feira passada, dia 16, para buscar um consenso em torno do parcelamento sem juros das compras com cartão de crédito.
O tema opõe os bancos, preocupados com o risco que assumem na operação e querem um limite no parcelamento dessas compras, e as credenciadoras, que são responsáveis pela intermediação dos pagamentos. Após a reunião, a Abranet divulgou uma carta aberta para o corpo executivo do Banco Central – incluindo Campos Neto – refutando a proposta da autarquia de limitar o parcelamento em 12 prestações.
"Foi uma surpresa para mim porque não teve nenhuma relação com a participação que eles tiveram na reunião. Eles estavam na reunião, poderiam ter falado naquele momento", declarou Campos Neto durante evento promovido hoje pelo Estadão, com apoio do <i>Broadcast</i> (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), em parceria com o B3 Bora Investir, site de notícias e conteúdo educacional produzido pela Bolsa. "Fizeram isso através de uma carta, que achei que não cabia, mas este é um tema que vamos conversar melhor à frente", acrescentou o presidente do BC.
Segundo Campos Neto, durante a reunião, a Abranet não se mostrou veemente contra e prometeu analisar a proposta. O presidente do BC frisou que para encontrar uma solução estrutural é preciso que as partes estejam dispostas a ceder um pouco. Ele afirmou ainda que as vendas parceladas sem juros tornaram-se um substituto do cheque pré-datado, mas cresceram demais, levando a uma "intoxicação do produto" que resultou em avanço da inadimplência, alta dos juros do cartão e um problema revelado semanas atrás por um emissor.
Ele pontuou que o mercado poderia não encontrar sozinho uma solução organizada, como um freio nas emissões de cartões por conta do aumento da inadimplência, o que levou o BC a agir. "Colocamos todos na mesa. Talvez não fazer nada não seja uma solução."
Campos Neto salientou que, na falta de entendimento entre os participantes do mercado, o BC sempre pode propor uma solução. "Estamos tentando uma solução para equilibrar e não ter bola de neve no efeito do rotativo e para que a população possa continuar comprando pelo parcelado", disse o presidente do BC.