O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, procurou atenuar atritos com o governo durante almoço com empresários do grupo Esfera, em seu segundo compromisso do dia nesta quarta-feira. "Sabemos que há visões diferentes dentro do governo e isso faz parte", declarou Campos Neto, voltando a reconhecer, assim como fez mais cedo, o "esforço enorme" do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na construção de um novo arcabouço fiscal.
Após lembrar do tripé de câmbio flutuante, âncora fiscal e âncora monetária, o presidente do BC disse que a autarquia usa dados de contas públicas como input a projeções da inflação à frente.
Repetiu, no entanto, que não há relação mecânica entre juros e arcabouço fiscal, apesar da influência sobre as expectativas. "Não temos como influenciar o presente, tudo que fazemos leva tempo", observou Campos Neto.
Ele voltou a dizer que o arcabouço elimina o risco de cauda de explosão da dívida pública e pontuou que o processo até a aprovação das novas regras ainda vai "amadurecer" no Congresso. "Há perguntas sobre receitas que precisam ser respondidas. Serão endereçadas."
Campos Neto disse ver um Congresso "super construtivo" na construção de um arcabouço que traga sustentabilidade à dívida.
<b>Corte de despesas</b>
O presidente do Banco Central disse que a dificuldade do Brasil de cortar despesas é estrutural, eximindo o atual governo. "Temos problema estrutural em cortar despesas, não é desse governo ou do anterior", declarou Campos Neto, em almoço com empresários promovido pelo grupo Esfera.
Ele observou que 46% das despesas já têm crescimento anual entre 1,6% e 1,7% acima da inflação "encomendado". Assim, acrescentou, é necessário um esforço para reduzir esse crescimento para 0,6%.
Segundo Campos Neto, o governo está tentando atingir receita maior com correção de distorções, mas que podem gerar a impressão de que alguns setores estão pagando mais impostos.
Durante o evento, Campos Neto pontuou que ruídos atrapalham o canal de expectativas não só monetárias, mas também fiscais. "Se pessoas do governo criticam plano fiscal, o canal de expectativa fica interrompido", declarou, ao cobrar coesão em torno do novo arcabouço fiscal.
<b>Empresários presentes</b>
Dentre os empresários convidados pelo Grupo Esfera Brasil para o almoço que a entidade oferece ao presidente do Banco Central em São Paulo, encontram-se o CEO do Banco BTG, André Esteves, o sócio do mesmo banco e CEO da Revista Exame, Renato Mimica, e o fundador do Grupo Multiplan, Isaac Peres, um dos maiores grupos de investimentos imobiliários do País, sobretudo na área de shopping centers.
Não há uma lista dos nomes dos empresários que estão participando do almoço, mas sabe-se que estão em um grupo de 70 empresários dos diversos setores da economia brasileira e responsáveis por mais da metade o Produto Interno Bruto (PIB) do País.