O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira, 17, que a autoridade monetária "não tem medo de fazer o que é necessário" para a convergência da inflação à meta. "Já tentamos mostrar isso ao mercado", disse, durante sua apresentação em evento promovido pela XP Investimentos, em Washington.
Ele afirmou que agora há muito mais incertezas do que no último Comitê de Política Monetária (Copom), mas o aumento da incerteza ficou dentro do esperado pelo Banco Central. Entre elas, as dúvidas sobre como será o processo de desinflação, o que pode "significar juro alto por mais tempo". "Até o próximo Copom, temos de observar a cada dia."
Durante o evento, ele afirmou que a comunicação do Copom e o próprio forward guidance desenham as linhas para quais podem ser as ações do comitê, a depender da evolução do cenário.
"Podemos ter uma redução da incerteza, o que significa seguir no caminho de sempre; podemos ter um sistema em que a incerteza continua alta, sem mudar, o que pode significar redução do ritmo; podemos ter cenário em que a incerteza começa a afetar variáveis mais importantes, e precisamos conversar sobre mudar o balanço de riscos; e podemos ter um cenário em que a incerteza aumenta, criando estresse globalmente, e nesse caso mudaríamos nosso cenário-base", disse.
Sobre os recentes acontecimentos na área fiscal, Campos Neto disse que o BC sempre defendeu que as metas teriam de ser mantidas, mas entendeu que a mudança foi necessária. Ele lembrou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse "muitas vezes que as âncoras fiscal e monetária estão relacionadas, mas a relação "não é mecânica". Ele disse que "a evidência dos últimos dias sugere que o mercado ficou mais preocupado com fiscal", mas que é necessário ver o impacto da revisão nas variáveis dos modelos.
Ele comentou ainda sobre as crescentes expectativas para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, afirmando que a projeção do BC, "continua adequada". Afirmou ainda ver no PIX "um efeito no PIB potencial".
<b>Câmbio</b>
O Banco Central não reage a movimentos de reprecificação do prêmio de risco brasileiro com intervenções no câmbio, disse o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto.
"Não reagimos ao fato de que as pessoas estão reprecificando nosso prêmio de risco", disse Campos Neto, argumentando que esse tipo de intervenção pode criar impacto em outros ativos. "Se o governo intervir demais no câmbio, você veria a taxa de juros longa explodir, porque as pessoas procuram outras formas de fazer hedge."
Segundo o banqueiro central, a autarquia procura não intervir muito pouco – o que poderia abrir espaço para movimentos especulativos -, nem intervir demais. "O câmbio é flutuante, achamos que é uma função importante dele, e que nossa intervenção só é para as circunstâncias de mau funcionamento do mercado, falta de liquidez ou má interpretação de algo", disse.