O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, voltou a dizer nesta terça-feira, 5, que a política fiscal não tem relação mecânica – ou seja, relação direta – com as decisões de juros da autoridade monetária. Ele ponderou que a história e as evidências apontam correlação entre riscos fiscais e as expectativas de inflação, uma das variáveis observadas pelo BC.
Durante live sobre inovação organizada pelo portal jurídico Jota, Campos Neto reiterou que não há necessariamente impacto mecânico sobre o trabalho do BC se a meta fiscal for "A, B ou C". Contudo, acrescentou, as evidências ensinam que as expectativas de inflação sobem quando o prêmio de risco aumenta pela menor visibilidade sobre a trajetória fiscal.
Após pontuar que o BC toma decisões baseadas em inflação corrente, hiato do produto e expectativas de inflação, Campos Neto observou que a desancoragem das expectativas atrapalha o processo de convergência de juros.
"Não é uma coisa mecânica, mas olhando para a história do Brasil e a evidência empírica, existe correlação grande, que não é mecânica, entre uma coisa e outra", declarou Campos Neto.
Assim, enfatizou, a visibilidade da trajetória de inflação está associada à visibilidade da trajetória fiscal.
<b>Desafios globais</b>
O presidente do Banco Central disse ainda que 2024 deverá ser um ano no qual os desafios serão "mais globais". Ele traçou um cenário de desaceleração da economia global, em decorrência dos juros mais altos em grande parte dos países, ao mesmo tempo em que as economias desenvolvidas estão muito endividadas.
Esse endividamento, frisou o presidente do BC, demandará mais capital, o que deve colocar a liquidez no foco em 2024.
Ele observou que, em um ano, os gastos mensais dos Estados Unidos com pagamento de juros saltaram de US$ 22 bilhões para US$ 77 bilhões, devendo avançar para mais de US$ 120 bilhões no ano que vem.
"Tem um desafio fiscal global, não só do Brasil, e isso vai fazer com que 2024 tenha um foco muito importante no tema da liquidez", disse Campos Neto ao reforçar que, com dividas mais altas, os países vão consumir mais recursos.