Uma canadense que se declarou culpada de fraude em fevereiro por ter falsificado que suas filhas eram descendentes do povo indígena Inuit, que habita as regiões árticas do Canadá, foi condenada a três anos de prisão na quinta-feira, 27.
As duas filhas de Karima Manji obtiveram cerca de 150 mil dólares canadenses (mais de R$ 617 mil) em benefícios destinados a educação do povo inuit entre 2020 e 2023, dos quais já devolveram 130 mil dólares canadenses. Esta é a primeira sentença envolvendo um caso de apropriação de identidade indígena no país. As informações são do <i>The Guardian</i>.
Segundo o jornal britânico, as filhas de Karima, Nadya e Amira nasceram na província canadense de Ontário e não têm nenhuma conexão com os inuit ou com as terras de Nunavut – território ártico do Canadá, onde vivem a maioria dos povos inuit. Para conseguir o benefício, a mulher alegou que havia adotado o casal de gêmeas de uma mulher de Iqaluit, capital de Nunavut,.
Apesar de ter passado por uma análise de verificação por parte dos membros da comunidade com o objetivo de evitar inscrições fraudulentas, a candidatura de Manji foi aprovada pela Nunavut Tunngavik Incorporated (NTI), responsável por supervisionar o processo.
<b>Lucros com produtos "originais" indígenas</b>
Amira e Nadya, que na época tinham 18 anos, rapidamente usaram sua identidade inuit recém adquirida para ter acesso ao dinheiro da Associação Kakivak, descrita em documentos judiciais como uma organização que atende aos inuit para fornecer financiamento para despesas relacionadas à educação, apontou o <i>The Guardian</i>. Entre setembro de 2020 e março de 2023, as jovens receberam cerca de C$158.254,05 em benefícios de organizações, de acordo com a declaração de fatos acordada. Outros C$64.413 ficaram retidos para Amira Gill em 2023, mas não foram pagos.
De acordo com uma reportagem recente do <i>Toronto Life</i>, Nadya e Amira falavam abertamente sobre sua identidade inuit enquanto estavam na universidade. A dupla chegou a iniciar um negócio online, chamado "Kanata Trade Company" para vender itens desenhados por artesãos indígenas, certificada pelo Conselho Canadense para Negócios Aborígenes. A empresa era supostamente administrado pelas "irmãs gêmeas Inuit" e tinha Karima como CEO.
Em setembro do ano passado, a polícia real canadense acusou Manji e suas filhas de fraude. No entanto, em fevereiro, as acusações contra as gêmeas foram retiradas depois que Manji se declarou culpada. Segundo o The Guardian, após a declaração de Karima, o NTI divulgou uma declaração pública, em 30 de março, afirmando estar ciente da possível inscrição fraudulenta de Amira e Nadya Gill e que Kitty Noah – que Manji alegou ser a mãe biológica – havia iniciado o processo para remover as meninas da lista de inscrição dos Inuit. O NTI, ainda ressaltou que o caso das irmãs Gill teria sido o primeiro do tipo.
Na sentença de quinta-feira, a juíza de Nunavut, Mia Manocchio rejeitou a recomendação para a suspensão da pena, dizendo ao tribunal que "apenas uma pena de prisão"se enquadraria no âmbito da fraude". De acordo com a juíza, o caso "deve servir como um aviso para qualquer futuro pretendente indígena de que a falsa apropriação da identidade indígena em um contexto criminal acarretará uma penalidade significativa".
Segundo o jornal, nos últimos anos, o Canadá tem lutado com uma onda de casos em que pessoas tem alegado falsamente a identidade indígena. Muitas dessas instâncias apresentaram afirmações vagas e questionáveis de ascendência das Primeiras Nações ou Métis. No entanto, pessoas que obtiveram com sucesso carteiras de identidade oficiais são casos raros no país.