A descoberta de um câncer durante a adolescência não é um desafio apenas para o jovem e sua família. Para os profissionais da oncologia, da pediatria e da psicologia, o aparecimento da doença nesta fase da vida causa uma série de debates em relação à abordagem feita com os pacientes e à estrutura dos hospitais.
“A maioria dos lugares está preparada para crianças ou adultos. Os adolescentes têm especificidades, rebeldias, dúvidas e um grupo próprio. Não querem se sentir como uma criança”, explica Sidnei Epelman, diretor do Departamento de Oncologia Pediátrica do Hospital Santa Marcelina e presidente da Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer (Tucca). No local, há lan house e atividades especiais para os jovens.
Epelman também é editor do livro Oncologia no Adolescente (Editora Atheneu), que será lançado em 8 de abril, quando é celebrado o Dia Mundial de Combate ao Câncer. A proposta da publicação é fazer um recorte sobre a incidência da doença na faixa dos 15 aos 19 anos. As análises dos casos normalmente se concentram na faixa entre 0 e 19 anos, de modo que crianças e adolescentes integram o mesmo grupo nas estatísticas.
“Os adolescentes costumam ter um diagnóstico mais tardio, porque não acreditam nos sintomas ou escondem.” De acordo com o especialista, 97% dos casos de câncer acontecem em adultos. Na faixa dos 15 aos 19 anos, a incidência da doença é 50% maior do que em pessoas com menos de 15 anos. Os tipos mais comuns são os linfomas de Hodgkin e não Hodgkin e os tumores ósseos.
Adaptação
Em tratamento desde setembro do ano passado, o ajudante-geral Weverton Peschiera Florencio, de 19 anos, tem uma saudade: jogar futebol. Foi durante uma partida que ele machucou o tornozelo esquerdo e, após dias sentindo dores, acabou sendo diagnosticado com um tumor ósseo. “Continuo fazendo o que sempre fiz. Saio com os meus amigos, vou ao shopping. Não desanimei.”
A família do jovem está presente em todo o processo. “Foi um choque, mexeu com a família inteira. Parei de fumar quando o vi em uma maca e também raspei minha cabeça quando ele ficou sem os cabelos”, conta o pai do jovem, o serralheiro Adalberto Florencio, de 54 anos.
Também diagnosticada com um tumor ósseo, a estudante Josiane dos Santos Silva, de 18 anos, fez anteontem, dia 27, a sua penúltima sessão de quimioterapia. A doença se manifestou quando ela estava grávida, e a jovem recebeu o diagnóstico três meses depois do parto. “Meu joelho inchava, eu andava de cadeira de rodas. Agora, estou usando as muletas, mas consigo andar sem elas.”
Josiane afirma que sempre foi caseira, mas que não abre mão de manter o visual em dia. “Eu sou vaidosa. Gosto muito de me maquiar.”
Superintendente médico do Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graacc), Sergio Petrilli diz que a abordagem com o adolescente tem de ser transparente. “A receita é falar a verdade e informar, aos poucos, o que acontece com ele. E fechar um contrato de dedicação para superar todas as adversidades.”
De acordo com Petrilli, atualmente, existe uma chance de cura de 70% dos cânceres. “Mas a principal condição para aumentar a sobrevida é tratar em hospitais especializados e com uma equipe multidisciplinar.”
Integrante da Associação Paulista de Terapia Familiar, a terapeuta Miriam Barros afirma que não só o adolescente precisa de atendimento psicológico, mas todos os familiares. “A adolescência é uma fase intensa. É importante que a família esteja preparada para acolher esse jovem, que precisa de apoio. Ela tem de fazer suas atividades sem superproteção.”
Miriam explica ainda que o adolescente aprende a criar mecanismos para enfrentar os medos e superar as dificuldades do tratamento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.