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Cancro cítrico vira epidemia em SP e só manejo pode frear doença

O afrouxamento a partir de 2009 na então rígida legislação de combate ao cancro cítrico em São Paulo fez com que a doença se alastrasse pelo Estado, maior região produtora de citros do mundo. O setor produtivo e pesquisadores estimam que a incidência de cancro nos pomares, em torno de 0,20% ao final da década passada, hoje esteja entre 3% e 11,4%, ou seja, um crescimento de até 60 vezes em seis anos.

Os dados atuais são projeções feitas por meio de modelos matemáticos a partir do último levantamento realizado pelo Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), em 2012, quando a incidência da doença estava em 1,39% dos pomares. O próprio Fundecitrus, que classifica a situação atual como uma “epidemia”, desistiu de fazer novos levantamentos após as mudanças na legislação de combate ao cancro.

Em 1999, a incidência do cancro cítrico chegou a 0,70% de plantas contaminadas por talhão (com cerca de 2 mil plantas cada) dos pomares e gerou uma ação conjunta entre o setor citrícola e o poder público. Portarias editadas pelo governo paulista obrigaram a erradicação de todos os talhões com incidência maior que 0,5% de plantas doentes e ainda realização de rígidas inspeções, a cargo do Fundecitrus por meio de um convênio da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA).

Milhares de agentes foram contratados para a vistoria e a erradicação e a incidência de cancro foi reduzida a quase zero. Por pressão política e de produtores, em junho de 2009 uma nova resolução da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo obrigou a eliminação apenas da planta contaminada com cancro e das que estivessem em um raio de 30 metros da doente.

Mas a principal mudança da nova resolução foi o fim da eliminação obrigatória de talhões inteiros cuja contaminação superasse 0,5%. Também foi suspensa a vistoria pelo Fundecitrus. A entidade saiu da função e, a partir de 2013, todo o processo de vistoria, eliminação de plantas doentes e apresentação de relatórios da doença passou a ser de responsabilidade do produtor.

O avanço da doença tornou, atualmente, a erradicação de plantas inviável economicamente, segundo Antonio Juliano Ayres, gerente-geral do Fundecitrus. “Quando o cancro estava presente em um talhão por mil a solução era erradicar. Agora que está em mais de 50 por mil só o manejo resolve”, disse. “Os custos de manejo hoje são de cerca de R$ 500 reais por hectare enquanto as ações de inspeção mensais e de erradicação custam cerca de R$ 2 mil por hectare”, completou.

O manejo do cancro cítrico deve ser feito por meio do uso de variedades cítricas mais tolerantes à doença, da aplicação de cobre para diminuir a infecção e do uso de plantas com a função quebra-vento para minimizar a chegada da bactéria pelo ar. Entre as ações complementares estão o controle do minador-dos-citros, uma mariposa que ataca as folhas e favorece a entrada bactéria do cancro.

O cancro cítrico é causado pela Xanthomonas citri e atinge todas as espécies e variedades comerciais de citros. Transmitida pelo ar, homens, mudas, veículos e até mesmo pelas chuvas, a bactéria causa perda de folhas nas plantas, lesões e quedas prematuras de frutos, com restrição ao comércio de frutas.

O presidente do Fundecitrus, Lourival Carmo Monaco, lembrou que a ação do cancro já prejudica a exportação de lima ácida Tahiti, mais conhecida como limão Tahiti, e cobra um pacto liderado pelo governo paulista para mitigar os danos da doença no Estado. “Já relatamos o problema ao secretário de Agricultura (Arnaldo Jardim) e esperamos uma decisão política e uma campanha para o manejo da doença. É preciso uma resposta rápida”, cobrou Monaco.

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