O empresário Rodolfo Hernández, candidato radical de direita da Colômbia, cresceu na reta final das eleições para presidente do país, marcada para domingo, 29, e se transformou em um fenômeno eleitoral. Com uma estratégia de campanha focada em redes sociais e promessas anticorrupção, o colombiano aparece em terceiro lugar nas pesquisas, mas se aproxima do direitista Federico Fico Gutierrez, que está em segundo lugar.
Se Hernández chegar a um possível segundo turno, as pesquisas atuais mostram que ele estaria a apenas alguns pontos porcentuais do favorito, Gustavo Petro. "A chave para sair da pobreza é: expulsar todos esses políticos ladrões que nos deixaram imersos na pobreza", disse Hernández em um comício em Cartagena, na semana passada. O empresário é um magnata da construção civil com uma fortuna avaliada em US$ 100 milhões.
Apesar da retórica anticorrupção, Hernández enfrenta uma investigação da Procuradoria-Geral da Colômbia por supostamente intervir em uma licitação da coleta de lixo na época em que foi prefeito da cidade colombiana de Bucamaranga. A acusação é de que ele agiu para beneficiar uma empresa para a qual o seu filho fazia lobby. Ele renunciou ao cargo quando foi convocado para responder o processo referente ao caso. Apesar disso, o candidato nega as acusações e afirma que o objetivo dos procuradores é manchar a sua imagem.
Antes da renúncia, Hernández chegou a ser suspenso da prefeitura por agredir um vereador em uma briga que incendiou as redes sociais.
No entanto, ele surgiu como uma surpresa nas eleições para presidente da Colômbia com a promessa de acabar com os privilégios das autoridades e governar com austeridade. O empresário se candidatou sem estar filiado a nenhum partido político e sem ter passado pelas eleições primárias, que decidiram os nomes da direita, esquerda e centro. Ele também apresentou um crescimento rápido nas pesquisas eleitorais, saindo de 13,9% das intenções de voto em abril para 20,9% este mês.
<b>Candidato do Tik Tok</b>
A estratégia de campanha de Rodolfo Hernández, que financia a própria candidatura, apostou nas redes sociais para fazê-lo crescer. De estilo populista e com facilidade para se comunicar com o público, Hernández aparece em vídeos excêntricos do TikTok. Em um deles, aparece andando de patinete elétrico.
Por trás das mídias, o empresário apresenta um programa de governo que reúne propostas historicamente do campo progressista – como a legalização do uso recreativo da maconha e o debate sobre novas políticas na luta antidrogas, no país que é o maior produtor mundial de cocaína – e da direita conservadora. Entre as propostas mais polêmicas, está o apoio ao fracking (método para extração de petróleo e gás criticado por um alto índice de ocupação de terra) e um endurecimento da política de imigração atual, que regularizou quase um milhão de venezuelanos que estavam ilegais no país.
Quanto à guerrilha do ELN, a último reconhecida na Colômbia, Hernández propõe um acordo semelhante ao que o governo de Juan Manuel Santos assinou em 2016 com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).
O empresário sofreu pessoalmente com a guerrilha. O pai, agricultor, foi detido pelos guerrilheiros da Farc por mais de quatro meses, enquanto a filha Juliana foi sequestrada pelos rebeldes do Exército de Libertação Nacional (ELN) em 2004. Hernandez acredita que ela foi assassinada em cativeiro, mas disse que iria explorar negociações de paz independente disso.
<b>Apoio de Íngrid Betancourt</b>
Na semana passada, a então candidata Íngrid Betancourt desistiu das eleições para apoiar Rodolfo Hernández. Ela afirmou que o empresário é "o único candidato que hoje pode derrotar o sistema" e tinha reais chances de ir ao segundo turno.
Betancourt era a única mulher candidata na Colômbia e havia voltado à corrida presidencial 20 anos depois de ser sequestrada pelos guerrilheiros das FARC, quando era candidata nas eleições de 2022. Ela retirou a candidatura após um desempenho baixo nas pesquisas, nas quais sequer alcançou 1% da intenção de votos.
Íngrid Betancourt e Rodolfo Hernández compartilham um discurso comum de combate à corrupção e saques, e contra a política tradicional e aquilo que a ex-senadora chama de "maquinaria". "Temos de nos libertar de um sequestro muito mais longo e muito mais horrendo do que o que vivi, nos libertar dos corruptos que roubam todas as nossas esperanças todos os dias e que empobreceram a Colômbia", disse Betancourt ao desistir da candidatura. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)